A Criação do Grupo de Trabalho de Educação Matemática na ANPED: O GT19
O GT 19 foi criado em 1999 na 22ª reunião anual da Anped, em conseqüência da crescente participação, em reuniões anteriores, de estudantes e professores de programas de Pós-Graduação do país, com pesquisas em Educação Matemática. O GT representa um importante fórum, no âmbito da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, para exposição e debate de parte significativa da produção científica na área de Educação Matemática do país. Para se ter uma idéia mais precisa sobre a importância desse espaço e de como ele foi conquistado são apresentados aqui alguns depoimentos de pesquisadores direta ou indiretamente envolvidos no processo de criação do GT.
Contribuição de Sonia Barbosa Camargo Igliori (1ª coordenadora do GT 19) apresentada na 26ª Reunião da ANPED
A criação de um grupo de trabalho numa associação nacional do porte da ANPEd, que congregue pesquisa de uma determinada área de saber, pressupõe antes de tudo, reconhecimento da área pela academia. No que tange à área de Educação Matemática, no Brasil, no final da década de 80 e início de 90, começava a se formar um círculo vicioso. Por um lado, se seu reconhecimento adviria da divulgação das pesquisas, por outro os espaços próprios a essa divulgação, restringiam-se quase que as duas revistas (Bolema e Zétetiké) e aos trabalhos acadêmicos para fins de titulação. E, por todo o país, era crescente a organização de núcleos de pesquisas em Educação Matemática, nos Programas de Pós-Graduação em Educação além da consolidação dos Programas de Pós-Graduação específicos em Educação Matemática, como o da UNESP (Rio Claro) e o da PUC-SP.
A Sociedade Brasileira de Educação Matemática, SBEM, a essa época, abrigava em seus Encontros fossem Regionais, Estaduais ou Nacionais, mais resultados de estudos relativos ao ensino de Matemática, do que, propriamente de pesquisas acadêmicas sobre Educação Matemática. Ao lado disso, ampliava-se o número de doutores na área, muitos com títulos obtidos fora do país.
A importância da ANPEd no cenário nacional aliada à identidade de temáticas de pesquisa, indica ser essa associação um espaço bem adequado para a organização dos pesquisadores em Educação Matemática. Assim, em 1997 os professores da PUC-SP: Benedito Antonio da Silva, Maria Cristina de Souza Albuquerque Maranhão, Sandra Pinto Magina, Saddo Ag Almouloud, Silvia Dias Alcântara Machado, Sonia Barbosa Camargo Igliori e Tânia Maria Mendonça Campos, decidem propor à ANPEd a criação de um grupo de trabalho em Educação Matemática. Essa ação exigiu dos professores proponentes, um aprofundamento de suas análises na medida que os embates entre os sócios e os proponentes acrescentavam argumentos novos pró e contra a criação do G.T. Os corredores do Hotel Glória, em Caxambu, Estado de Minas Gerais, constituiu o habitat dos professores da PUC-SP, durante os dias que durou a 20ª reunião, na defesa de suas opiniões. Os apoios à criação do novo G.T. vieram desde logo de Maria Tereza Carneiro Soares (UFPR), Janete Bolite Frant e Mônica Rabello (USU, RJ) e de Sérgio Nobre (UNESP-RC).
Havia entre os sócios da ANPEd, presentes na 20ª reunião, em especial da própria área de Educação Matemática e de Ensino de Ciências, aqueles que por convicção, defendiam posição contrária à criação do G.T. em Educação Matemática. Eles acreditavam que, ao contrário do que nosso documento postulava, a criação do G.T. iria provocar maior isolamento dos pesquisadores de Educação Matemática dos da Educação, do que a inserção pretendida. Diziam eles que era mais importante participar dos G.Ts já existentes do que criar um específico de Educação Matemática. O grupo proponente contra argumentava dizendo que muitos de nós já havíamos tentado enviar trabalhos de pesquisa para a ANPEd e recebíamos como resposta que o trabalho não poderia ser aceito, mesmo sem a análise de mérito, por falta de condições de análise uma vez que seu tema não se incluía em nenhum dos G.Ts existentes. A bem da verdade, apenas o G.T de Formação de Professores era receptível aos trabalhos de pesquisa da área de Educação Matemática, quando as mesmas se incluíam nessa especificidade. Ora, as direções de pesquisa, em Educação Matemática, como sabemos, cobre um espectro muito maior de temáticas.
O trabalho de proposição deu continuidade e em assembléia geral da 20ª reunião, no ano de 1997, foi aprovado por ampla maioria dos presentes a criação do grupo de estudos (G.E) em Educação Matemática, com Sonia Igliori na coordenação, por um período de dois anos.
O G.E, é criado em fase probatória, diferencia-se do G.T. por não receber financiamento para participação aos autores de trabalhos aprovados, além da seleção dos mesmos não ser da responsabilidade do comitê científico da associação. Estes dois aspectos poderiam ser um entrave para um grupo que iniciava sua atuação. Mesmo assim para a 21ª reunião anual, de 1998, o número de trabalhos enviados foi significativo permitindo selecionar o número exigido pela ANPEd. Na qualidade de coordenadora tivemos o cuidado de desde o início manter para a seleção dos trabalhos as mesmas regras do comitê científico da ANPEd, tendo sido selecionados pareceristas ad hoc entre pesquisadores de diversas universidades brasileiras.
Para a reunião de 1999 houve um acréscimo considerável de trabalhos enviados e de público presente às reuniões do G.E. Neste ano, por ampla maioria dos sócios presentes à assembléia geral da ANPEd, o G.E. transformou-se em G.T. 19 . e passou a reger-se pelas regras da ANPEd. Silvia Dias Alcântara Machado, da PUC-SP, assume a direção até 2001 e em seguida Luiz Carlos Pais da UFMS.
O trabalho desenvolvido por Dario Fiorentini (UNICAMP) e apresentado na 25ª reunião sobre a produção do G.T. 19, indica que este espaço possibilita divulgação de parte considerável da produção da pesquisa acadêmica em Educação Matemática, em âmbito nacional, no entanto, não há como aquilatar-se a importância que este G.T. assume como meio de troca entre as demais áreas que compõem a ANPEd e mesmo entre as diversas correntes de pensamento que se desenvolvem no interior da própria Educação Matemática. O isolamento de correntes não é desejável. Que a vida do G.T. 19 seja longa e que nele ocorram debates teóricos profícuos, único caminho para a pesquisa científica.