Ocupação de escolas em São Paulo recebe apoio de associações diversas; confira depoimentos de anpedianos

O Brasil tem acompanhado desde a noite de 9 de novembro a mobilização de jovens em escolas da capital paulista e, posteriormente, no interior de São Paulo. Até a noite desta terça-feira (24), a lista do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) já indicava mais de 100 colégios ocupados. Na manhã de segunda-feira, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou, em decisão unânime da 7a Câmara de Direito Público, o recurso da Secretaria Estadual da Fazenda Pública para a reintegração de posse das escolas ocupadas.

Foto: Carta Capital

Tais ocupações se apresentam como uma resposta à reorganização escolar anunciada pelo Governo estadual em setembro deste ano. A proposta prevê o fechamento de 93 escolas de um total de 5.147 instituições estaduais e a transferência de alunos para readequação da rede a partir de uma divisão de unidades por ciclos, afetando diretamente o cotidiano de 311 mil estudantes e 74 mil professores. A reorganização vem recebendo críticas pela falta de diálogo no planejamento, de garantias e de transparência nas informações repassadas até então, além de serem evidenciados equívocos nas ações. Em moção de repúdio, a Congregação da Faculdade de Educação da USP afirma que “é preocupante constatar, na política adotada, uma intenção irresponsável de economia de gastos públicos que, associada a iniciativas como a da flexibilização do currículo do ensino médio, o fechamento de salas no período noturno, a diminuição da oferta de vagas para Educação de Jovens e Adultos, entre outras, apontam para o descompromisso com a oferta pública da educação, funcionando como estímulo para a privatização do ensino”.

Foto: D. Oliveira / Folhapress

Paralelamente, as ocupações têm chamado a atenção pelo grau de envolvimento dos alunos, que reivindicam a revogação do plano do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que recuou temporariamente da reorganização enquanto aciona a justiça e declara que tais movimentos têm cunho político. No entanto, as ações revelam o protagonismo assumido por esses jovens, que exigem maior qualidade das instituições e questionam a ação hegemônica do governo estadual e coercitiva por parte da polícia. As mobilizações têm se dado com grande força nas ruas, escolas e na internet, através de páginas nas redes sociais que trazem informações e o olhar de dentro das ocupações <www.facebook.com/naofechemminhaescola>. Para Juarez Dayrell (FAE-UFMG), do Observatório da Juventude da UFMG, "ao protagonizarem este movimento, os jovens estão nos dizendo que querem ser escutados não só agora, mas também depois, se colocando como interlocutores válidos em qualquer proposta de mudança na escola. É preciso amplificarmos as vozes dos jovens não só em São Paulo mas em todo o Brasil." Confira ao final mais depoimentos de anpedianos sobre as ocupações.

O alcance e importância dessas ocupações levaram ao posicionamento de inúmeras associações, movimentos e instituições, como demonstra o levantamento do portal ANPEd:

Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio

Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp)

UFSCAR

Pastoral da Educação

Congregação da Faculdade de Educação da USP

Observatório Da Juventude Da UFMG / Fórum Das Juventudes Da Grande Belo Horizonte

FINEDUCA; ANPAE; ANPAE-SP; ANFOPE, GT 5-ANPEd

Congregação da Faculdade de Educação da UNICAMP 

* Petição Pública - FE-UNICAMP

Sindicato dos Professores de São Paulo – Sinpro-SP

Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp)

Departamento de Educação da Unifesp

Conselho de Graduação da Unifesp

Campanha Nacional pelo Direito à Educação

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A pedido do Portal da ANPEd, associados também deram depoimentos sobre como enxergam e acompanham essa questão. Confira:

Mais uma vez os jovens nos surpreendem e ocupam o espaço público com suas demandas justas e necessárias! O movimento dos jovens secundaristas de São Paulo é muito significativo pois contradiz o senso comum que insiste no desinteresse e descompromisso do jovem pela escola. Ao contrário, neste movimento de ocupação eles estão nos dizendo que querem e gostam da escola, mas querem uma instituição diferente, de qualidade! Ao protagonizarem este movimento, estão nos dizendo que querem ser escutados não só agora, mas também depois, se colocando como interlocutores válidos em qualquer proposta de mudança na escola. É preciso amplificarmos as vozes dos jovens não só em São Paulo mas em todo o Brasil!

Juarez Dayrell (Faculdade de Educação da UFMG) - Observatório da Juventude da UFMG

Diante do autoritarismo do governador Geraldo Alckmin que decide fechar 94 escolas públicas no Estado de São Paulo sem estabelecer nenhum diálogo com a população, os estudantes revelam o protagonismo da juventude nos processos de mudança social e na construção de um outro futuro. Sabemos, desde os clássicos estudos de Mannheim, que os jovens não são conservadores ou revolucionários por natureza, mas também sabemos da potência desse momento da vida. São mais de 100 escolas ocupadas. São milhares de jovens lutando pela escola pública. Lutam para que suas escolas não sejam fechadas, mas também lutam pela melhoria da qualidade dessa escola e especialmente pela qualidade do ensino médio no País. Lutam pelo direito de participarem das decisões que afetam diretamente suas vidas. É preciso que o mundo adulto tenha sensibilidade para escutar e aprender com essas jovens gerações, mas que também assuma a sua responsabilidade na construção de um presente e de um futuro mais justo e mais democrático para todos nós.

Maria Carla Corrochano - Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE)/ Mestrado em Educação. UFSCar - campus Sorocaba.

A reorganização proposta pelo Governo Alckmin é um plano feito com assessoria de consultorias privadas pagas por empresários paulistas que aponta na direção da privatização da educação pública paulista. No presente estágio, há uma arrumação de casa destinada a preparar a base deste processo. Os estudantes já ocupam mais de 100 escolas, boicotaram o exame de larga escala do Estado e dão uma grande demonstração de luta em defesa da escola pública de gestão pública.

Luiz Carlos de Freitas (UNICAMP)

Venho me solidarizar com os estudantes do estado de São Paulo que protestam contra a chamada “reorganização escolar”, que prevê o fechamento de 93 escolas e a transferência de alunos. O protesto, com ocupação de escolas, é legítimo contra uma ação que retrocede no direito à escola em que perdem os estudantes, os profissionais da educação e a sociedade. Registramos que mais uma vez na história brasileira o movimento estudantil assume um necessário protagonismo na luta em defesa da educação pública, todo apoio à sua luta!

Ronaldo Lima Araujo (UFPA)

Os estudantes em São Paulo deram resposta cívica ao autoritarismo de estado que decretou o fechamento de escolas sem ouvir as comunidades escolares. Eles e elas também deram novos sentidos ao uso do espaço público da escola. Produziram tempo livre cidadão - lúdico-criativo e cooperativo - em escolas aprisionadas pela lógica da produtividade dos testes, da competição, do ranking e da perda de autonomia de professores e corpo técnico, estes cada vez mais transformados em aplicadores de regras que não elaboraram mas que precisam aplicar e zelar para que os processos adotados atinjam a eficácia dos resultados projetados na forma de índices quantitativos de rendimento. Enfim, estudantes transformaram em questão política - fizeram cidadania - daquilo que estava normalizado como racionalidade técnica inconteste. E ainda está acontecendo...

Paulo Carrano (UFF)