O Curso de Pedagogia Intercultural para Professores Indígenas do Vale do Javari da Universidade do Estado do Amazonas, manifesta os mais profundos sentimentos de tristeza, indignação e luto pela confirmação do brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips, desaparecidos desde o dia 05/06/2022, por ocasião do exercício de suas atividades como profissionais dos direitos humanos na Terra Indígena Vale do Javari, Amazonas.
Bruno Pereira (41) era agente indigenista do quadro de servidores públicos da FUNAI, órgão oficial do Estado brasileiro. Atuou como coordenador geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Diretoria de Proteção Territorial e como coordenador regional em Atalaia do Norte. Colaborou para a realização do curso de pedagogia intercultural para professores indígenas do Vale do Javari. E por sua dedicação à defesa dos direitos dos povos indígenas, foi vítima de perseguições institucionais, tendo sido acolhido como membro da Equipe de Vigilância Ambiental do UNIVAJA, organização indígena de representatividade reconhecida e respeitada por todos os povos indígenas da Terra Indígena Vale do Javari.
O jornalista Dom Philips (57), de nacionalidade inglesa, era colaborador do jornal The Guardian e escreveu para outros veículos da imprensa internacional, entre os quais o Financial Times, New York Times, Bloomberg e Washington Post. Em sua trajetória, atuou com temas relacionados ao jornalismo ambiental, dedicando-se à investigação sobre o desmatamento da Amazônia. Por seus trabalhos de denúncia de crimes ambientais foi hostilizado e teve sua imagem veiculada em redes sociais difamatórias. Dedicava-se à pesquisa jornalística para elaboração do seu livro “Como salvar a Amazônia”.
A morte destes dois agentes dos direitos humanos coloca em evidência as políticas de morte de um governo que enfraquece, desestrutura e exerce autoritarismo com os órgãos de proteção, fiscalização e atenção aos povos indígenas. Incentivando, orientando, protegendo ou sendo deliberadamente omisso diante da violação de territórios e corpos indígenas que sofrem as violências do narcotráfico, da exploração de madeira, da mineração, da caça e da pesca predatória.
Consternados, tristes e revoltados, unimo-nos às vozes de todos aqueles que gritam por justiça e pelo direito de viver em paz. Manifestamos nossos sentimentos às famílias de Bruno Pereira e Dom Philips, estendendo nossa solidariedade aos agentes indigenistas, indígenas e aos profissionais que neste momento sofrem injustiças e ameaças no exercício de suas funções públicas e humanistas.
Manifestamos nosso apoio à Associação de Servidores da FUNAI (INA) diante dos assédios morais, das violências institucionais, do autoritarismo e da situação permanente de ameaça que vivem na condição de agentes do órgão oficial de defesa dos direitos indígenas. Exigimos ao poder público que viabilize as condições de infraestrutura e segurança para o exercício das atividades na Terra Indígena Vale do Javari.
Conclamamos à sociedade brasileira para que mantenha sua atenção à terra indígena Vale do Javari, exigindo maior atuação dos órgãos do poder público na proteção dos territórios indígenas, pressionando as autoridades para que continuem as investigações deste e de outros crimes envolvendo agentes dos direitos humanos, lideranças indígenas e de comunidades tradicionais. Pela memória daqueles que foram plantados, que nosso luto se transforme em luta e que o Vale do Javari não se torne um vale de lágrimas.
Manaus, Amazonas, 16 de junho de 2022
Curso de Pedagogia Intercultural Indígena para Professores do Vale do Javari
Grupo de Trabalho – Formação de Professores Indígenas – UEA
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Escolar Indígena e Etnografia – UEA