por Maria Cecilia Fantinato (Professora da Faculdade de Educação da UFF e GT 19 da ANPEd)
Sou pesquisadora da área da etnomatemática e participei da oficina da UPMS representando o GT19, Educação Matemática. Uma das potências da etnomatemática é a de romper com uma visão, muito arraigada, de matemática única, idealizada, ahistórica, elitista, eurocêntrica, aproximando-se, portanto, de uma proposta descolonizadora, ao reconhecer e valorizar os muitos saberes presentes nas práticas sociais. Neste sentido, apesar de esta representar para mim uma experiência inédita, me integrei com facilidade nas propostas da oficina, de natureza coletiva e autogestionária. A convivência e as trocas de saberes e afetos com um grupo de cerca cinquenta pessoas, entre uma maioria de representantes de movimentos sociais variados e uma minoria de pesquisadores acadêmicos, foi uma experiência muito formativa. Debatemos sobre nossas diferenças e pensamos sobre alternativas para a maior aproximação entre o contexto das universidades e o contexto dos diferentes movimentos sociais. Do lugar de professora universitária, reconheço que temos muito a aprender com os movimentos sociais, seus saberes, suas demandas, sua lógicas, suas temporalidades. A pesquisa em etnomatemática já procura fazer isso, mas quando adota a matemática ocidental como legitimadora dos saberes dos grupos sociais, ou quando assume uma perspectiva "extrativista" de investigação (Santos, 2019), corre o risco de reforçar a coloniedade do conhecimento (Quijano, 2005). A crescente participação de pesquisadores provenientes dos movimentos sociais nesta área pode contribuir para evitar tais contradições.