O Boletim Anped entrevista Dalila Andrade Oliveira, docente da UFMG e presidente da gestão "Educação, Democracia e Justiça Social", diretoria que esteve à frente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação no biênio 2011-2013. Na entrevista, a presidente faz um balanço da atuação desta gestão em nível institucional, das políticas educacionais e de estímulo à pesquisa na área.
Boletim Anped: A gestão da qual você é presidente se encerra no próximo dias 12 de dezembro. Qual balanço é possível fazer da atuação dessa diretoria?
Dalila Andrade Oliveira: Foi um período de muito trabalho, de um grupo bastante coeso e afinado, que por meio de muita dedicação, pôde realizar mudanças importantes na vida da Associação. A pós-graduação em educação cresceu muito nos últimos anos, refiro-me ao número expressivo de novos cursos e programas de mestrado e doutorado e, consequentemente, maior número de pesquisadores na área, o que exige a ampliação do raio de atuação da Anped. A nossa Associação representa na atualidade cerca de 150 programas de pós-graduação em educação, incluindo os mestrados profissionais que têm crescido bastante também na área de educação, e aproximadamente 13 mil pesquisadores em educação. Nos quatro anos na condução da Associação, nossa diretoria procurou estimular a participação dos pesquisadores da área nos espaços da Anped, congelando o valor da anuidade em todo o período de gestão, ou seja, o valor da anuidade estabelecido para o ano de 2010 é o vigente até hoje, estabelecendo um valor diferenciado para os estudantes de pós-graduação, entre outras medidas que propiciaram maior envolvimento dos associados. Realizamos uma cooperação com o IPEA que resultou em duas chamadas com bolsas públicas e por meio de um acordo com a SECADI desenvolvemos importantes frentes de apoio à divulgação de estudos e pesquisas sobre a educação para o enfrentamento das desigualdades sociais. Merece destaque nesse sentido, as linhas de apoio que propiciaram o financiamento de revista em consolidação na área.
Boletim: Essa gestão atuou num momento de grandes debates e mudanças para as políticas educacionais, tais como a extensão da obrigatoriedade escolar, a tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE), a aprovação de parte do que é recolhido com os royalties do petróleo para educação, o debate acerca da constituição do Sistema Nacional de Educação (SNE) e as discussões em torno do currículo para a educação básica. Como a ANPEd atuou nesse contexto? É possível pesar a participação da Associação nas conquistas até aqui alcançadas?
Dalila Andrade Oliveira: A Anped nos últimos quatro anos atuou vivamente no acompanhamento da agenda educacional brasileira procurando contribuir com o que temos de mais precioso que é o acervo de estudos e pesquisas realizadas no âmbito dos programas de pós-graduação em educação no país, e debatidas e difundidas nos Grupos de Trabalho da Anped e na Revista Brasileira de Educação (RBE). Algumas atuações foram marcantes nesse contexto, por exemplo, a contribuição que a Anped ofereceu (e oferece) aos debates ocorridos na tramitação do PNE, em que reunimos estudos e formulamos ementas no sentido de melhorar a proposta inicial (PL 8.035/2010 e PLC 103/2012), publicadas em um livro que foi amplamente divulgado na comunidade educacional. Nossa presença nas audiências públicas na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, no Conselho Nacional de Educação (CNE) foi muito importante e, às vezes até decisivas para a formulação (ou reformulação) de algumas políticas. Merece ainda destaque nossa participação em vários grupos de trabalho constituídos no âmbito do Ministério da Educação, no INEP e em outros espaços de discussão de políticas em formulação. Nossa presença foi marcante nas discussões sobre a avaliação da educação infantil, nas vivas resistências que apresentamos ao Exame Nacional para ingresso na carreira docente, entre outros. Mais recentemente nossa luta pelo reconhecimento da educação como área estratégica tem motivado importantes debates públicos.
Boletim: Nos últimos anos a ANPEd expandiu seu número de sócios (institucionais e individuais), assim como sua atuação em diferentes instâncias. Como essa gestão lidou com essa mudança no perfil da Associação?
Dalila Andrade Oliveira: Nossa atuação se orientou justamente pela necessidade de adequar a Associação às mudanças ocorridas na área de educação. Tal atuação exigiu grande ousadia por parte desta diretoria, pois tanto tivemos que promover ajustes internos quanto externos na Anped. Certamente a mudança mais ousada e significativa foi a retirada da realização da reunião científica nacional, momento de maior visibilidade e integração da nossa Associação, da cidade de Caxambu no interior de Minas Gerais (durante 18 anos a reunião anual da Anped foi realizada no sul de Minas Gerais) e assumir um caráter itinerante. Nos quatro anos de gestão desta diretoria, realizamos quatro reuniões científicas nacionais, tendo sido a primeira em Caxambu (2010); Natal (2011); Porto de Galinhas (2012) e Goiânia (2013). Claro que isso envolveu um debate mais amplo, com a decisão tirada em assembleia, mas o trabalho para a realização de uma reunião científica do porte da Anped é exacerbado, o que nos levou a uma mudança mais radical, que exigiu alteração estatutária que foi adotar o período bianual para a realização das reuniões científicas nacionais e buscar maior integração com as reuniões regionais (Anpedinhas e EPENN). A alteração estatutária foi bastante ampla buscando além dessas, outras adequações mais amplas da Associação à realidade atual, por exemplo, instituindo as vice-presidências regionais, o reconhecimento e instituição do Fórum de Editores de Periódicos da Área de Educação (FEPAE) e maior organicidade com as reuniões regionais.
Boletim: A ANPEd realizou este ano sua 36a Reunião Nacional, em Goiânia. Quais foram os destaques e principais avanços desse encontro realizado na Universidade Federal de Goiânia (UFG)?
Dalila Andrade Oliveira: Depois de 20 anos conseguimos realizar novamente a reunião científica nacional da Anped em um Campus universitário. Foi a maior reunião que realizamos em número de inscritos, tivemos como tema central "Sistema Nacional de Educação e Participação Popular: Desafios para as Políticas Educacionais", debate essencial neste momento histórico da educação nacional. Fomos brindados com duas brilhantes conferências, na abertura por uma de nossas pratas da casa, professor Demerval Saviani, responsável pela formação de uma geração de pesquisadores da área, e de encerramento pelo professor Steven Ball, do Instituto de Educação da Universidade de Londres, importante referência nas pesquisas em políticas educacionais e currículo. Outro momento que merece destaque foi a apresentação da candidatura à eleição da diretoria e conselho fiscal da Anped.
Boletim: A próxima gestão que assumir a ANPEd vai atuar num momento de mudanças tanto em nível de contexto político nacional quanto na própria Associação - com as Reuniões Nacionais e regionais em caráter bienal, a partir de decisão estatutária de 2012. Quais os desafios para essa nova gestão?
Dalila Andrade Oliveira: A nova diretoria terá pela frente o desafio de instaurar uma nova cultura na Associação, em muitos casos são novas rotinas que irão se impor. As reuniões nacionais a cada dois anos mudam os ritmos e alguns ritos que por mais de 30 anos estiveram presentes. A Anped precisa consolidar sua presença nas regiões, começamos a mudar isso com a instituição das vice-presidências regionais, mas é necessário mais: maior integração e organicidade entre as reuniões regionais e a Associação, pela mudança estatutária a diretoria da Anped é quem deverá organizar essas reuniões em parceria com os programas das regiões. O fortalecimento da pós-graduação em educação no Brasil passa sim pela internacionalização crescente, nesses quatro anos ampliamos nossa participação em importantes espaços junto a comunidade acadêmica internacional, mas é necessário também reforçar a presença da pós-graduação e pesquisa em educação nas diferentes regiões do país, contrapondo-se a concentração institucional e geográfica responsável pelas escandalosas assimetrias que temos no país.