O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi um dos assuntos mais comentados no mês de agosto em todo o país, com grande repercussão na mídia brasileira. O balanço final da prova em 2015 e o resultado das escolas no Enem no ano anterior foram destaques na grande mídia. A prova acontece nos dias 24 e 25 de outubro.
No último dia do mês de julho, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou que o exame contará com 7.746.057 candidatos nesse ano. A mídia destacou a queda no índice de inscrições confirmadas com relação ao ano anterior. Em 2014, a prova contou com 8.722.356 candidatos, número 11,2% maior que o da edição 2015. Jornais e revistas também apresentaram a informação que o resultado das inscrições confirmadas nesse ano quebra uma sequência de recordes registrada pelo Inep desde 2008.
Ainda sobre o balanço final da prova, editorias como o Uol Educação apresentaram reportagem com dados sobre a situação escolar dos candidatos e a região do país com maior número de inscrições confirmadas, por exemplo. A maior parte dos candidatos já conclui o Ensino Médio. No total, são 4.491.820 confirmados nessa situação. Em segundo lugar, estão os estudantes que estão no último ano do Ensino Médio. Ao todo, são 1.649.807. A região do país com mais inscrições confirmadas é o Sudeste. Os dois primeiros estados com mais participantes estão nessa região: São Paulo, em primeiro lugar, seguido por Minas Gerais. Atrás do Sudeste, estão o Nordeste e o Sul.
O aumento no número de isentos no Enem 2015 também foi abordado por jornais, sites e revistas. A taxa de inscrição de R$ 63 não foi cobrada para quem declarou carência ou cursa o último ano do Ensino Médio em rede pública. Mais de 5 milhões de candidatos não pagaram a prova – cerca de 3,7 milhões por estarem dentro da nova regra de isenção e mais de 1 milhão por declarar carência. O aumento na quantidade de isentos e a queda no número de declarações aceitas em relação ao ano passado foram abordados pela mídia.
Poucos dias após a divulgação do balanço final do Enem, o Inep divulgou o resultado das escolas na edição de 2014. Os dados trazem o resultado de 15.640 instituições. O resultado de 2014 apresentou, segundo as matérias, poucas diferenças em relação às notas apresentadas pelo Inep na edição de 2013. As escolas particulares continuam à frente das públicas e a distância entre as mesmas pouco diminuiu na última prova.
Pelo terceiro ano consecutivo, o governo federal não apresentou a média das escolas em forma de ranking. O objetivo é diminuir o impacto da comparação entre as instituições de ensino, que se torna injusto, segundo o próprio órgão e a mídia, devido às diferenças nos contextos socioeconômicos das escolas, por exemplo. Apesar da decisão do Inep, jornais brasileiros fizeram um cálculo aritmético das médias dos colégios e criaram um ranking, como fez o site G1 em reportagem especial.
De acordo com a classificação da publicação, apenas 93 das mil melhores notas são de escolas públicas, o que representa menos de 10% do total. Nenhuma escola pública ficou entre as 20 melhores colocadas no Enem. No ano anterior, um colégio federal ficou no 6º lugar – foi a única escola pública do “top 20”. Jornais e revistas destacaram que 16 escolas que apareceram entre as 20 primeiras em 2014 já estavam nessa lista em 2013. Em outra reportagem, o site G1 apresentou características comuns entre os colégios “top”.
No geral, são escolas pequenas, com professores qualificados e estudantes de nível socioeconômico muito alto. Jornais e revistas ressaltaram que essas características impactam diretamente no desempenho das instituições. As 20 melhores escolas têm, em média, 66 alunos por escola e 73% dos professores com formação adequada. A média nacional de estudantes em cada colégio é de 88 e a percentagem de professores com formação adequada entre as 15.640 escolas cai para 61%.
Mas, segundo análises feitas por jornais e revistas, o maior impacto no desempenho das escolas é a renda familiar. Enquanto escolas com alunos com condição financeira muito alta alcançaram média de 611, colégios com estudantes de renda muito baixa pontuaram em média 429 pontos. Enquanto 84,4% das 500 melhores notas são de instituições com nível socioeconômico muito alto, a melhor classificação de um colégio com alunos de condição financeira muito baixa é a posição 12.391.
As escolas que não existem
Desde o ano passado, a mídia brasileira denuncia a prática entre colégios particulares de selecionar os alunos com melhores notas e separá-los em uma unidade com CNPJ diferente para, assim, conseguir aparecer entre as primeiras colocadas no Enem. De acordo com reportagem especial no site do jornal O Estado de São Paulo, oito entre as dez melhores notas na edição de 2014 são dessas “escolas fantasmas”.
O Colégio Integrado Objetivo foi destaque em diversas matérias sobre o assunto. O motivo é que essa escola funciona no mesmo endereço do Colégio Objetivo. O que muda é o CNPJ e a posição no Enem. Enquanto o Colégio Objetivo ficou na 608ª posição, o Integrado Objetivo é o primeiro lugar – mesma posição que obteve em 2013.
A prática de “inventar escolas” é outra razão para o governo federal não mais fazer um ranking das escolas. A colocação no Enem tornou-se a principal publicidade das instituições de Educação e, assim, a principal preocupação das escolas, à frente, inclusive, da qualidade do ensino. É o que alguns jornais ressaltam para o estabelecimento de um novo indicador pelo Inep.
O instituto incluiu, neste ano, o indicador de permanência na escola. O objetivo é mostrar se o estudante cursou total ou parcialmente o ensino médio na mesma escola, além das taxas de rendimento, nível socioeconômico e formação docente. A medida, segundo o presidente do Inep, Chico Soares, é contra a maquiagem feita por algumas escolas do ranking do Enem. Jornais e revistas ressaltaram que a captação de alunos com alta performance de outras escolas por instituições “fantasmas” também será afetada pelo indicador.
Dados e informações
A mídia brasileira apresentou, além do ranking, como foi o desempenho dos estudantes em cada prova. O maior destaque foi para a queda no índice de aproveitamento na prova de Matemática. Comparada a 2013, a média obtida na última prova foi 33 pontos menor. O desempenho médio em Linguagem, Ciências Humanas e Ciências da Natureza registrou um aumento considerado pequeno. Respectivamente, a elevação com relação ao ano anterior foi de 20, 28 e 15 pontos.
Com o fim do barulho causado pela mídia sobre as escolas que não existem, jornais e revistas passaram a divulgar informações e notícias sobre revisões, simulados e cursos que estão ou sendo ofertadas gratuitamente ou mediante pagamento. Matérias com dicas sobre os assuntos que podem cair na edição 2015 também são responsáveis pela presença do Enem na mídia.
* Reportagem: Tatiana de Carvalho Oliveira
Estagiária de comunicação da ANPEd