Confira a entrevista do Boletim ANPEd com a coordenadora do GT 18 da Associação, a professora Rosa Aparecida Pinheiro (UFSCar), que analisa a atuação do GT Educação de Pessoas Jovens e Adultas e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.
Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre Educação de Pessoas Jovens e Adultas dentro do GT 18?
Pela avaliação de nossa última Reunião, em Goiânia, o Grupo de Trabalho em Educação de Pessoas Jovens e Adultas tem apresentado um crescente, tanto quantitativa como qualitativamente. Este crescimento é notificado pela presença de pesquisadores no GT, bem como pelo número de trabalhos inscritos para apresentação. Esses fatores são positivos, pois uma característica de nosso GT é a amplitude de temáticas a serem tratadas porque o campo da EJA apresenta uma diversidade e necessidade de atendimento a sujeitos com características e demandas diferenciadas. No campo da Alfabetização de jovens e adultos, temos as pesquisas desde as Campanhas e programas organizados como pelos Governos, como MOBRAL, Programa Alfabetização Solidária; O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária e atual Programa Brasil Alfabetizado que visa erradicar o analfabetismo até 2017 e atender progressivamente jovens e adultos no Ensino Básico. Nesse círculo, temos ainda os trabalhos de alfabetização vinculados a grupos e movimentos sociais, em uma perspectiva cultural emancipatória e/ou freireana, como o Movimento de Educação de Base, Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, Movimento de Cultura Popular do Recife, Experiência 40 horas de Angicos. São ainda presentes no GT 18 ações de pesquisa em alfabetização de jovens e adultos realizadas em Universidades, ONGs e outras instituições. Em conjunto com as pesquisas de alfabetização, temos as de Escolarização que colocam a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como afirmação do direito dos jovens e adultos trabalhadores a uma integração orgânica com a Educação Básica. Nesse sentido, as pesquisas na relação da EJA com o Mundo do Trabalho no empenho quanto a análise dos saberes e competências relacionados aos contextos existenciais dos jovens e adultos trabalhadores e sua abordagem pedagógica. Nos espaços de analise dos Programas, como PROEJA, PROJOVEM, PRONATEC, debatemos como reconhecer o conhecimento produzido/adquirido no mundo do trabalho, problematizando-o, e estabelecendo diálogo com o conhecimento escolar, permitindo ao educando e aos educadores a construção de novos conhecimentos.
Para entender essas relações e outros aspectos, os trabalhos apresentados trazem também o enfoque dos Sujeitos da EJA, em novas sociabilidades e culturas organizacionais. Entendemos que o conhecimento desses sujeitos oportunizará a formulação de políticas públicas voltadas à educação de jovens e adultos que atendam a demanda e possibilite a formação de leitores e escritores autônomos no mundo contemporâneo. Nessa ótica, a investigação sobre formação de professores e educadores de pessoas jovens e adultas tem se apresentado como temática marcante; em como se fundamentar nas contribuições que os alunos trazem de suas vivências, inseridos em grupos sociais. Para contribuir com esse debate, analisamos as pesquisas sobre Currículo e Práticas Pedagógicas, em suas concepções de organização curricular e relações com as práticas culturais dos sujeitos da EJA – em tempos e espaços diferenciados, considerando as vivências social e cultural dos educandos. Uma demanda que tem surgido recentemente é sobre a Educação inclusiva, em como garantir espaços de inclusão aos alunos com necessidades educacionais especiais; pois a EJA vem se configurando como alternativa aos alunos acima dos catorze anos e o desafio que se coloca é como garantir aprendizagem, socialização e permanência em seus espaços com o acionamento de recursos e adaptações necessários a essa implementação. Esse debate sobre estruturas, currículo e formação é muito relevante, pois a EJA não se limita a educação escolar, mas atende a uma forte demanda da Educação Continuada /ao Longo da vida, com pessoas que, a partir da Educação Básica, traçam seus próprios caminhos de aprendizagem. E as pesquisas apresentam também o fortalecimento da Educação prisional, com suas possibilidades da prática educativa nos cárceres brasileiros em sua contribuição para a reconstrução da dignidade do apenado e pleno exercício da cidadania. O encaminhamento em nosso GT tem sido o de buscar aprofundamento quanto a questões e proposições comuns à diversidade apresentada, sendo que atuamos com os mesmos sujeitos e na mesma perspectiva de garantia de seus direitos. Buscamos nas atividades do GT 18 a produção sobre as relações políticas e as possibilidades de organização que contemplem os jovens e adultos em processo educativo.
Como coordenador(a) do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?
A partir do quadro apresentado na questão inicial, acredito que não possa fazer escolhas de quais questões devam avançar – pois penso que todas necessitem avançar, por estarem relacionadas. Felizmente assim como as demandas são bastante fortes, o número de pesquisadores neste campo vem também tendo mais presença nos Programas de Pós-graduação e nos espaços educacionais. Ao longo dos anos, com espasmos de expansão e retrocesso, a Educação de Jovens e Adultos tem se projetado como um importante espaço de debate das questões científicas, culturais e políticas. Me parece que devemos aproveitar o espaço de debates oportunizado no GT 18 para promover a participação das comunidades acadêmica e científica para, a partir das questões delineadas, nos articularmos na formulação e desenvolvimento da política educacional do país, especialmente no tocante ao atendimento de pessoas fora do sistema educacional e na possiblidade de atuações para além da instituição escolar. Acredito que devemos nos aprofundar nos processos e práticas formais e informais relacionadas à aquisição ou ampliação pelos jovens e adultos de conhecimentos básicos, de apropriação e criação de tecnologias em seu espaço profissional e de sua interlocução sociocultural. Necessariamente, essas proposições passam pela formação e valorização dos professores e educadores de jovens e adultos – que tem avançado muito lentamente para responder as demandas neste campo.
Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?
A articulação só é possível com uma ação integrada entre os vários segmentos que compõe a ANPED, a partir de canais de comunicação e implementação das ações. Para ser uma Reunião que expresse os rumos das pesquisas e as novas possibilidades de investigação, a articulação no encaminhamento das indicações do GT para o trabalho encomendado, o minicurso, bem como as temáticas para a composição de sessões especiais devem ser construídas no conjunto com os participantes das atividades realizadas pelo GT. A coordenação conjunta das Reuniões deve ser bem estruturada, pois as diversas instancias de decisão precisam ter parâmetros comuns – organizados a partir de um consenso criado nos debates de compreensão da ANPED. Me parece que o último encontro, em Goiânia – 2013, ocorreu nesse sentido, pois integrou as representações distintas que compõem a ANPED na avaliação e projeção das ações de organização. Uma questão importante colocada é o da relação dos GTs com reuniões científicas regionais que estão em fase de organização por eixos temáticos, que nem sempre coincidem com o da ANPED, onde há coordenadores de eixos, para cada edição, e não coordenadores de GTs fixos. Acredito que devemos aprofundar os debates sobre as relações de regionalização, como flexibilização e democratização, em sua articulação com encaminhamentos dos GTs em nível nacional – que formatos devemos construir. Nesse sentido, um encaminhamento importante desta reunião foi a comissão formada por alguns Gts para a resolução de funcionamento dos mesmos.
Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância do Grupos de Trabalho, em especial do seu GT, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira?
Acredito que a importância das formulações no GT 18 em relação aos temas caros à educação brasileira se dá, para além da produção de conhecimentos, pela representação da ANPED junto a organismos de assessoria no MEC para o debate da relação de educação de jovens e adultos em sua relação com as políticas públicas. Em nossa participação na CNAEJA (Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos) junto a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) - nos baseamos nas pesquisas no campo da EJA, que nos possibilita dispor de informações em maior profundidade e identificar concepções para subsidiar o debate sobre formulação e implantação de políticas de juventude e EJA. A participação nessa Comissão oportuniza também a constituição de uma significativa rede de informações com outras instituições e organismos que atuam nessa área. Como vimos na primeira questão, os temas caros ao GT 18 estão inter-relacionados e os encaminhamentos de propostas também precisam estar. Essa foi a diretriz também para nossa participação nas COIMES e CONAE, na contribuição para o Plano Nacional de Educação no que se refere às estratégias e metas da política de educação de jovens e adultos.
Quanto à relação com os encontros nacionais e internacionais, esta se dá por meio das pesquisas e intercâmbios que os participantes do GT18 realizam por demandas de suas investigações a na formação de grupos interinstitucionais e redes de pesquisas. Em nível nacional, para além dos encontros de pesquisas regionais, ligados a ANPED, como EPENN e Anpedinhas, e dos seminários e encontros organizados pelo próprio MEC, temos parcerias entre organismos de naturezas diferentes que concretizam trabalhos em comum. Essa parceria se realiza também em encontros internacionais, realizados pelas Universidades, e ações de pesquisadores, mas é uma ação que deve ser melhor articulada e aprofundada.
Que sugestões de leituras você indicaria para alguém que queira se inteirar melhor sobre as discussões relacionadas a temática de seu GT?
Pela complexidade de nossas ações, é muito difícil fazer indicações de leituras, ainda mais sem deixar obras importantes de lado. Posso tentar delinear algumas obras sobre temáticas específicas, reiterando que é um quadro que não expressa a produção do Gt 18 como um todo, mas aponta referencias nos campos da EJA.
FÁVERO, Osmar; SOARES, Leôncio (orgs). I Encontro Nacional de alfabetização e cultura popular. MEC/UNESCO, 2009.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 28ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREITAS, Marinaide Lima de Queiroz; FREITAS, Antonio Francisco R.; Adriana Cavalcanti Santos. Os sentidos do ensino da leitura na EJA: as vozes das professoras sem margens. Linha Mestra (Associação de Leitura do Brasil), v. 24, p. 13-246, 2014.
GALVÃO, A. M.; DI PIERRO, M. C.. Preconceito contra o analfabeto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013. v. 1. 123p.
JULIÃO, E. F.. Educação de Jovens e Adultos no sistema penitenciário: notas de pesquisa sobre a experiência brasileira. Archivos Analíticos de Políticas Educativas / Education Policy Analysis Archives, v. 21, p. 01-23, 2013.
MACHADO, M. M.; RODRIGUES, M. E. C.. Educação de jovens e adultos: relação educação e trabalho. Retratos da Escola, v. 7, p. 373-385, 2013.
MOURA, Dante Henrique, PINHEIRO, Rosa A.. Currículo e formação humana no ensino médio técnico integrado de jovens e adultos. Em Aberto, v. 22, p. 91-108, 2009.
PAIVA, Jane. Os sentidos do direito à educação para jovens e adultos. RJ. D Pet alii, FAPERJ, 2009.
RIBEIRO, Eliane. Desafios para as políticas de juventude e educação no Brasil. RECSO - Revista de Ciencias Sociales da Universidade Católic, v. 3, p. 29-36, 2012.
SÉRGIO HADDAD. A Educação Continuada e as políticas públicas no Brasil. Revej@. Revista de Educação de Jovens e adultos, v. 1, n. 0, p. -01 – 118, ago. 2007.
SOUZA, Maria Celeste R. F. e FONSECA, Maria da Conceição F. R. Relações de gênero, educação matemática e discurso: enunciados sobre mulheres, homens e matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
Deixamos aqui também um espaço para você abordar algum outro assunto de relevância para o GT, caso considere importante.
Como o GT 18 nasce da intersecção como a Educação popular e Movimentos sociais, um dos nossos enfoques na próxima 37ª Reunião é o da “EJA: ações plurais, sujeitos singulares”. Pensamos que é preciso acionar novas chaves para se pensar a elevação da escolarização da população brasileira, conhecendo seus sujeitos, considerando as novas formações socioeconômicas e culturais que tem sido postas para as novas gerações. Precisamos incorporar essas transformações nas nossas análises, que impactam desde estruturas de pensamento, disposições sociais e formas de inserção no mundo. Em nossas contribuições para a formulação de políticas, buscar uma formação integrada e de educação emancipatória, que não se restrinjam a programas temporários, mas em políticas públicas com elaboração de estratégias de implantação de mudanças efetivas para a educação brasileira.