Já encontra-se disponível em versão online a edição n.68 da Revista Brasileira de Educação (RBE), correspondente ao primeiro trimestre de 2017. Para o lançamento desse número entrevistamos dois autores que produziram artigos para a revista: Rosana Medeiros de Oliveira (UnB) é autora do artigo "Descolonizar os livros didáticos: raça, gênero e colonialidade nos livros de educação do campo" e Pedro Angelo Pagni (Unesp) é autor do artigo "A emergência do discurso da inclusão escolar na biopolítica: uma problematização em busca de um olhar mais radical".
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Rosana realizou um estudo de campo com o material didático que integrou Programa Nacional dos Livros Didáticos (PNLD) de educação no campo em 2013. Confira um trecho da entrevista:
Você percebe a necessidade de descolonizar livros didáticos em outras áreas que não relacionadas com a educação no campo? Perguntamos isso porque a representação do homem e da mulher do campo podem ser também alvo desse mesmo efeito colonial em diferentes materiais didáticos.
Sim, é preciso descolonizar não apenas os livros didáticos de educação do campo. Entretanto, estes são os materiais didáticos em que se poderia esperar um outro horizonte epistêmico. O primeiro edital do PNLD de educação do campo difere de outros editais do PNLD, pois é mais atento às dimensões de uma educação anti-racista, anti-sexista, não-homofóbica, para as subalternizações advindas da hierarquias urbano X rural, para as expropriações capitalistas dos recursos e dos modos de existência, etc. Portanto, de certa forma, a expectativa sobre os livros de educação do campo era mais alta no que diz respeito à descolonização dos saberes e modos de vida. Mas a resposta das editoras tem sido uma pasteurização politicamente correta – nos livros de educação do campo e em outros livros do PNLD – que impede uma real transformação dos discursos e visualidades, e que mascara o pano de fundo normativo e naturalizado da ordem colonial, hetero-patriarcal e racista.
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O artigo "Descolonizar os livros didáticos: raça, gênero e colonialidade nos livros de educação do campo" de Pedro Pagni faz parte da seção "Espaço Aberto" da RBE. Confira um trecho da entrevista:
Atualmente projetos baseados no programa Escola Sem Partido tem sido implementados em diferentes municípios, qual a relação desses projetos com a inclusão escolar ao pensar a formação da juventude?
Procurei argumentar em uma passagem no artigo publicado na RBE que, caso se considere que o papel da escola no neoliberalismo seria se ocupar da formação do capital humano, a convivência dos demais atores da escola com o/as deficientes faria com que adquirissem uma habilidade a mais, agregando ao seu perfil uma competência que seria útil a sua atuação no mercado. Diferentemente do que alguns pais alegam, por exemplo, que o/as deficientes atrapalhariam o desempenho de seus filhos na escola, essa perspectiva biopolítica neoliberal defenderia o contrário. Pelo que conheço do programa Escola sem Partido, não me lembro de constar alguma referência à inclusão. Insisto que, talvez, a preocupação desse programa seja outra, mantendo alguma relação com a inclusão mais pela piedade religiosa do que em relação a certo alinhamento ao desenvolvimento neoliberal, pois, como escrevi num artigo em co autoria com Alexandre Filordi de Carvalho e Sílvio Gallo publicado no Portal da Anped, a proposta é pré-moderna e, portanto, não chega a ser nem liberal...é quase medieval...dado seu fundamentalismo. Mas, vamos supor que considerasse qualquer possibilidade de inclusão, seguramente não seria aquela que sugiro, emergente das lutas transversais e das redes que se constituem a partir de modos éticos de vida. Isso porque, por princípio, esse programa se alguma coisa tem de atual, dentro do registro biopolítico, é se alinhar às políticas de governo das diferenças.
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