Neste mês de outubro será lançada a edição n.58 da Revista Brasileira de Educação. Veja os destaques deste número no Editoral da RBE.
Editoral - Revista Brasileira de Educac?a?o v. 19 n. 58 jul.-set. 2014
A RBE 58 esta? sendo finalizada em um momento poli?tico de grande releva?ncia nacional e que contou com a participac?a?o efetiva da ANPEd. Trata-se da aprovac?a?o pela Ca?mara dos Deputados, por unanimidade, do Plano Nacional de Educac?a?o (PNE 2011-2020). Ainda que a tramitac?a?o tenha ocorrido com mo- rosidade, o PNE aprovado aumenta para dez por cento o produto interno bruto (PIB) a ser aplicado na educac?a?o, caracterizando um avanc?o significativo para a poli?tica nacional de investimento na a?rea, que ate? o momento na?o chegava a seis por cento. Nesse processo, mais uma vez percebemos a importa?ncia do engajamento das entidades da sociedade civil na construc?a?o das condic?o?es poli?ticas e te?cnicas que possibilitaram a aprovac?a?o do PNE. Vale destacar tambe?m a ampla discussa?o em curso sobre e?tica na pesquisa que tem sido construi?da no a?mbito da Comissa?o Nacional de E?tica em Pesquisa (CONEP), a partir do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho encarregado de elaborar diretrizes que balizem os procedimentos para as a?reas de cie?ncias sociais e humanas. A ANPEd, com inu?meras entidades cienti?ficas, faz parte desse fo?rum, visando a? elaborac?a?o de crite?rios que possam atender a?s necessidades dessas a?reas do conhecimento.
A RBE publica neste nu?mero doze artigos e uma resenha que se inscrevem em campos tema?ticos da histo?ria e memo?ria da educac?a?o, das poli?ticas pu?blicas, do ensino me?dio e superior, do aprendizado de crianc?as indi?genas e dos estudos sobre os movimentos sociais. A diversidade de e?nfases teo?ricas e metodolo?gicas que sustenta as discusso?es nas produc?o?es cienti?ficas em educac?a?o caracteriza os diferentes artigos.
O primeiro grupo de textos inscreve-se na a?rea de histo?ria da educac?a?o. David Vincent, em “Alfabetizac?a?o e desenvolvimento”, analisa pra?ticas de alfabetizac?a?o na Inglaterra ao longo do se?culo XIX. Os dados sugerem que a Inglaterra levou mais tempo que pai?ses considerados modernos para alcanc?ar suas metas educacionais, mas que mostrou desigualdades similares em relac?a?o a? idade, ge?nero e renda. O artigo “Higiene, tipologia da infa?ncia e institucionalizac?a?o da crianc?a pobre no Brasil (1875-1899)”, autoria de Irma Rizzini e Jose? Gonc?alves Gondra, discute a emerge?ncia da infa?ncia como problema social e o tratamento que lhe foi dado por me?dicos formados pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Os autores anali- sam as marcas dos discursos higienistas em dois internatos criados no Rio de Janeiro, entre 1875 e 1899, para crianc?as “o?rfa?s, abandonadas e desvalidas”. Vi?vian Matias dos Santos apresenta, em “Para pensar o campo cienti?fico e educacional: mulheres, educac?a?o e letras no se?culo XIX”, um estudo acerca da inserc?a?o de mulheres, nos se?culos XVIII e XIX, em espac?os pensados por e para “homens de cie?ncias e de letras”. Com a abordagem de “fragmentos historiogra?ficos”, ressaltam-se questo?es de ge?nero, adentrando discursos e pra?ticas que perpassaram a histo?ria intelectual no Brasil antes da criac?a?o das primeiras universidades.
Os dois artigos que se seguem discutem poli?ticas da educac?a?o no pai?s, com e?nfase nas Diretrizes Curriculares para o Ensino Me?dio e a formac?a?o de profes- sores da educac?a?o ba?sica. Monica Ribeiro da Silva e Eloise Me?dice Colontonio, em “As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Me?dio e as proposic?o?es sobre trabalho, cie?ncia, tecnologia e cultura: reflexo?es necessa?rias”, apresentam uma ana?lise dos sentidos de trabalho, cie?ncia, cultura e tecnologia na sociedade brasileira atual. O artigo problematiza, com base em autores vinculados a? teoria cri?tica, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Me?dio. Valdinei Costa Souza e? autora de “Poli?tica de formac?a?o de professores para a educac?a?o ba?sica: a questa?o da igualdade”, no qual analisa o Programa Parfor Presencial no conjunto das poli?ticas de formac?a?o docente. A autora destaca, por um lado, a discrepa?ncia entre a neces- sidade de formar professores e a oferta real de vagas pelo referido programa e, por outro, as dificuldades de os inscritos permanecerem nos cursos de formac?a?o docente.
Na seque?ncia, os artigos diversificam-se pela transversalidade de espac?os de aprendizagem: educac?a?o indi?gena, educac?a?o superior e educac?a?o ba?sica. O artigo “Participac?a?o e aprendizagem na educac?a?o da crianc?a indi?gena”, de Roge?rio Correia da Silva, apresenta um dia?logo entre os campos da educac?a?o e da antropologia para pensar a crianc?a indi?gena em dois movimentos. No primeiro, buscam-se contribui- c?o?es dos estudos etnolo?gicos de populac?o?es ameri?ndias, e no segundo procura-se incorporar as contribuic?o?es daqueles que analisam os processos de aprendizagem de pra?ticas sociais. A si?ntese dos dois movimentos e? tomada como refere?ncia para a ana?lise etnogra?fica do aprendizado de crianc?as Xakriaba? e de sua participac?a?o nas pra?ticas sociais de sua comunidade.
Referindo-se ainda a? aprendizagem, o artigo de Ida Luci?a Morchio e Adriana Mabel Fresquet, “Aprender en la universidad: ana?lisis de aspectos que lo condicio- nan desde la perspectiva de profesores y alumnos de la Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo/Argentina) y de la Universidad Federal do Ri?o de Janeiro (UFRJ/ Brasil)”, apresenta duas fases de uma pesquisa desenvolvida no Brasil e na Argentina que envolveu alunos e professores de va?rias a?reas nos dois pai?ses. O propo?sito que orientou a pesquisa sobre aprender na universidade foi tomado, por um lado, na compreensa?o da aprendizagem do aluno como base para desenhar ac?o?es que pro- movam sua tomada de conscie?ncia e o controle dos processos que realizam e, por outro, possibilitar ao professor uma revisa?o de suas pra?ticas docentes considerando a perspectiva de quem aprende.
Com foco na escola, mais especificamente na sala de aula, Luciano Campos da Silva e Daniel Abud Seabra Matos apresentam em “As percepc?o?es dos estu- dantes mineiros sobre a incide?ncia de comportamentos de indisciplina em sala de aula: um estudo a partir dos dados do SIMAVE/PROEB 2007” um survey que levantou as percepc?o?es dos estudantes de escolas pu?blicas de Minas Gerais sobre a incide?ncia de comportamentos de indisciplina em sala de aula. Os autores anali- sam como alguns fatores associam-se a? percepc?a?o de indisciplina: ni?vel de ensino, sexo, ni?vel socioecono?mico e proficie?ncia em li?ngua portuguesa e matema?tica. Os resultados apontam para uma forte relac?a?o entre fracasso escolar e indisciplina e entre pra?ticas pedago?gicas e indisciplina, e uma baixa associac?a?o entre indisciplina e ni?vel socioecono?mico.
Davide Carbonai e Ronaldo Bernardino Colvero, autores do artigo “Pape?is sociais no ensino me?dio: uma ana?lise baseada na teoria das redes”, analisam como as redes sociais foram utilizadas para estudar 22 turmas em instituic?o?es da regia?o da Toscana, Ita?lia. O artigo de Marcos Jacobo Estrada Ruiz, “La prospectiva de la participacio?n social en la educacio?n en Me?xico: el punto de vista de los especialis- tas”, apresenta resultados de uma pesquisa realizada naquele pai?s, indicando que as pra?ticas participativas no cena?rio educacional fundam-se em eventos que sa?o alheios a? lo?gica do Estado e das pra?ticas governamentais. Com isso, as condic?o?es de possibilidade de mudanc?as na participac?a?o social na educac?a?o encontram-se nos esforc?os que se podem dar a partir das organizac?o?es da sociedade civil.
O artigo de autoria de Clenio Lago e Mauricio Joa?o Farinon, “A educac?a?o no horizonte da construc?a?o lingui?stica”, toma como base a teoria cri?tica de Adorno e a perspectiva hermene?utica de Gadamer, situando-as na corrente filoso?fica deno- minada po?s-metafi?sica. Os autores retomam proposic?o?es de Adorno e Gadamer e estabelecem um dia?logo entre esses dois filo?sofos, na intenc?a?o de dar outro sentido a? educac?a?o no se?culo XXI. Finalizando a sec?a?o de artigos, “Trajeto?ria intelectual de pesquisadores da educac?a?o: a fecundidade do estudo dos memoriais acade?micos”, de Teresa Cristina Rego, apresenta resultados de pesquisa realizada sobre o tema da constituic?a?o identita?ria e suas relac?o?es com narrativas autobiogra?ficas. Como fonte, a pesquisa utilizou doze memoriais apresentados em concursos de livre-doce?ncia e de professor titular, produzidos por professores ligados direta ou indiretamente aos estudos educacionais. Na sec?a?o Resenha, Elizabeth Maria Beserra Coelho apresenta reflexo?es acerca do livro Povos indi?genas e escolarizac?a?o: discusso?es para se repensar novas epistemes nas sociedades latino-americanas, organizado por Mariana Paladino e Gabriela Czarny, publicado pela FAPERJ/Editora Garamond, Rio de Janeiro, 2012. A obra soma-se a? produc?a?o de trabalhos sobre a relac?a?o dos estados nacionais com os povos indi?genas, no que concerne a?s poli?ticas de escolarizac?a?o.
A Comissa?o Editorial