A defesa da liberdade de pensamento é a defesa da pessoa humana. Nas ciências, nas religiões, no campo do direito, em cosmogonias ancestrais, a pessoa humana é dotada da capacidade de pensar livremente. As muitas formas de entender e explicar o mundo costuram esse emaranhado de diferentes olhares e sentires do mundo que nas universidades são pesquisados, debatidos, ensinados e avaliados. Esse espaço universal, que desde o século XII, preza por autonomia diante da igreja e do Estado, é hoje, no Brasil, alvo de processos persecutórios do quilate daqueles de tempos sombrios, conforme já vimos denunciando nos casos do Reitor Cancellier (UFSC), de Elisaldo Carlini (UNIFESP), Jaqueline Muniz (UFF), Monica Ribeiro da Silva (UFPR), Fernando Carneiro (FIOCruz), relativo às ameaças contra docentes e instituições que criaram disciplinas acadêmicas para o estudo do golpe de 2016 e tantos outros. Na história do Brasil, o passado presente das ditaduras que perseguiram pessoas por seus diferentes modos de pensar, entre eles, professores, pesquisadores e gestores de universidades, nos impede de calar diante da reedição dessa ‘caça às bruxas’. Lembramos que em um contexto de esperança, e não de ódios e desconfianças, acordamos, no Art. 207. da CF/88, que “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. A intervenção de instâncias outras na gestão, ensino e pesquisa, historicamente, fere o principio de autonomia da universidade, criminaliza pesquisadores e gestores, mas não pode impedir que provássemos que a terra não é plana, a despeito de perseguições e fogueiras. Deve-se a isso nosso dever de defender a autonomia universitária, preservando sua autonomia de gestão, que garante inclusive a liberdade de ensino e pesquisa científica. São essas características que fazem das universidades instrumentos de desenvolvimento social e patrimônio da sociedade brasileira. Resistir e atar laços de solidariedade contra os crescentes ataques pessoais a pesquisadores e gestores de universidades e institutos de pesquisa é lutar pela autonomia da universidade. Nesse sentido, a ANPEd manifesta solidariedade à Conselheira do Conselho Nacional de Educação Malvina TâniaTuttman e à Professora Márcia Yukari Misusaki da Universidade Federal de Grande Dourados e cumpre o dever de publicar as cartas de apoio de seus pares.
Clique aqui e confira nota do PPGEdu da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) em solidariedade à professora Tânia Tuttman.
Confira nota de repúdio do Sindicato das professoras e professores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) a ameaças e exposições sofridas pela professora e sindicalizada Márcia Yukari Mizusaki
O Sindicato das professoras e professores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) repudia as ameaças e exposições sofridas pela professora e sindicalizada Márcia Yukari Mizusaki, perseguida juntamente com outros pesquisadores de instituições e projetos parceiros da UFGD em decorrência do trabalho de campo na comunidade indígena de Ñu Verá, na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul. Após o trabalho de campo, os pesquisadores foram surpreendidos e ameaçados por dois homens que estavam de camionete.
Repudiamos também a cobertura do jornal Diário MS, que na última quarta-feira (22) publicou uma notícia com o título "Índios ampliam invasões de propriedades em Dourados; veja vídeo", assinada por Marcos Santos, que tenta criminalizar a professora Márcia Yukari Mizusaki, além de expor publicamente seu nome e placa de seu carro com uma versão tendenciosa e unilateral dos fatos, colocando em risco sua integridade física e moral.
Não admitiremos que nós, professoras e professores, sejamos retalhados e expostos no exercício de nossas funções.
Diretoria ADUFDourados
Dourados (MS) - 23 de agosto de 2018