reportagem: João Marcos Veiga
O Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar campus Sorocaba (PPGEd-So) finalizou pesquisa sobre os impactos da COVID-19 na educação básica, da rede pública e privada, desenvolvida nos meses de abril e maio de 2020 na Região Metropolitana de Sorocaba. Respondem pela investigação os professores doutores Marcos Francisco Martins, Luciana Cristina Salvatti Coutinho e Maria Carla Corrochano, associados da ANPEd.
Intitulada "Condições e dinâmica cotidiana e educativa na RMS (Região Metropolitana de Sorocaba/SP) durante o afastamento social provocado pelo coronavírus", a investigação aponta que 41,68% dos(as) estudantes pesquisados (1476) não estão aptos(as) ao trabalho remoto, considerando as condições estruturais e psicopedagógicas. Ao final, o relatório indica 25 ações para os profissionais da educação e autoridades públicas enfrentarem a COVID-19 na educação.
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Imagem/charge: Lézio Júnior
A equipe de pesquisa, formada por 15 pessoas, formulou uma investigação orientada pelo seguinte problema: "quais são os limites e as possibilidades que os(as) estudantes da rede de educação básica pública e privada estão enfrentando no exercício das atividades escolares feito em domicílio?"
"Os dados revelam que, muito embora o ensino remoto possa ser importante no contexto da pandemia, é preciso refletir sobre as atividades escolares que serão realizadas nesse período. A manutenção da efetivação das horas letivas, do calendário por bimestre, da avaliação de aprendizagem em processo, que já foram encaminhadas aos(às) estudantes pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, encaminhamentos feitos com a ausência de diálogo efetivo sobre as possíveis saídas para este momento, poderá contribuir para ampliar, ainda mais, as desigualdades educacionais existentes", orienta o relatório.
Dentre as indicações aos poderes públicos e aos(às) profissionais da educação está a produção de um levantamento na rede de educação para identificar os(as) estudantes que não têm equipamento que possibilite acesso à Internet (laptops ou tablets, por exemplo) e envidar esforços para que os poderes públicos os forneçam aos(às) alunos(as) que precisarem; a instalação e/ou ampliação do acesso aberto à Internet em territórios vulneráveis das 27 cidades da RMS; e a definição de um protocolo sanitário para orientar o funcionamento das escolas.
Nos apontamentos conclusivos, a equipe de pesquisa apresenta uma evidência captada pela investigação, mas que não estava em seu escopo inicial: o desemprego, que pode afetar estrutural, psíquica e emocionalmente o desenvolvimento das atividades escolares feitas pelos alunos(as) remotamente. Além disso, os(as) pesquisadores destacam que os impactos da COVID-19 na educação são amplos e complexos, têm recorte de classe, de raça-etnia e de gênero, e que serão infrutíferas as iniciativas isoladas de enfrentamento dos problemas decorrentes da pandemia, pois para adequadamente equacioná-los é indispensável ações intersetoriais, articulando as autoridades educativas e os profissionais da educação com os de outros setores, como a saúde e a assistência social, por exemplo.
Por fim, cabe destacar que, além de a investigação trazer uma atualização das discussões em torno de educação e as consequências da pandemia de COVID-19, disponível nas referências bibliográficas, o cálculo de aptidão ao desenvolvimento de trabalho escolar remoto não se deteve apenas na observação da aluno carente de equipamento digital e acesso à internet, pois considerou outros elementos estruturais (condições da residência) e psicopedagógicos (disposição para realizar atividades escolares e mediação pedagógica no domicílio).