Novembro negro em tempos de pandemia: aquilombamento virtual | Colaboração de texto por Analia Santana (GT 21)

por Analia Santana (PPGEDUC/UNEB/SMED)1 - GT 21 Educação e Relações Étnico-Raciais

INTRODUÇÃO

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Por menos que conte a história

Não te esqueço meu povo

Se Palmares não vive mais

Faremos Palmares de novo.

(LIMEIRA, 2012, p. 197)

A literatura nos convida a esperançar nesses tempos de Pandemia, onde o confronto com a morte iminente. No poema Quilombos, o saudoso poeta baiano José Carlos Limeira, toma como ponto de inflexão Palmares e magistralmente homenageou Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez.

Limeira nos convida a reflexão, assim como, remete-nos a buscarmos os referenciais palmarinos, as cosmovisões africanas e afro-brasileira para ressignificar nossa existência e dá continuidade às nossas lutas, enquanto pessoas pretas/negras, afro-brasileiras e brasileiros de outras descendências.

O novembro negro, mês das expressões das lutas e culturas negras, de rememorar heróis negros e heroínas negras. Às Dandaras, Aquatunes, Firminas, Mahis, Lélias, Beatrizes, Carolinas, Luízas, dentre outras. Assim como os Zumbis, Limas, Josés, Quirinos, Machados, Gamas e outros milhares. Assim como, todo um povo que através da resistência, do sangue e do suor deram suas vidas em todos as partes do país, nas diversas frentes de lutas, para acabar com os trezentos oitenta e oito anos de escravização e exclusão social, cultural e econômica do povo negro.

Lembramos das muitas comunidades quilombolas espoliadas hoje, dos 325 anos do assassinato do líder quilombola Zumbi e extermínio do Quilombo de Palmares. Portanto, rememorar e dar continuidade a esse legado é nossa função.

AQUILOMBAMENTO VIRTUAL NO NOVEMBRO

Nesse contexto de restrições por conta da pandemia, algumas atividades serão reinventadas virtualmente. Para que minimize as lacunas que ficarão nas nossas vidas, pela ausência das caminhadas, dos seminários, das feiras de artes e culturas, os shows, os lançamentos de livros, dentre outras.

As laives, os webnários, seminários virtuais, rodas de conversa virtuais e etc., dinamizados nas diversas plataformas digitais e redes sociais darão o tom do novembro negro na Pandemia. O aquilombamento virtual nos seus vários formatos, exclui mais de 50% da população negra. Mas, darão pequenos bálsamos para outros, nesses tempos difíceis, onde aquilombamento virtual é possibilidade de alongamento da vida.

Dessa maneira, aquilombamento ou quilombo como sugere Beatriz do Nascimento (1985), é inspiração para as lutas dos tempos contemporâneos.

Quilombo passou a ser sinônimo de povo negro, sinônimo de comportamento do negro e esperança para uma melhor sociedade. Passou a ser sede interior e exterior de todas as formas de resistência cultural. Tudo, de atitude à associação, seria quilombo, desde que buscasse maior valorização da herança negra. Hoje, o 20 de novembro é data instituída de fato no calendário cívico nacional, como Dia da Consciência Negra ou Afro-Brasileira (NASCIMENTO, 1995, p. 124)

Observando o pressuposto acima, é notório o aumento da exclusão e da invisibilidade das lutas dos movimentos negros, destruição da memória, de atitudes racistas, de retiradas das políticas de ações afirmativas, de intolerância religiosa, de extermínio estatal da juventude negra e muito mais. Assim sendo, o 20 de novembro deve acontecer todos os dias do ano. Abdias do Nascimento (1982), nos motiva a pensar numa sociedade quilombista onde se perspectiva a inclusão e rechaça os fundamentos racistas.

A sociedade quilombista não é uma sociedade exclusivista de negros; ela é de todos os brasileiros, brancos, negros, índios e orientais. Uma sociedade igualitária em todos os sentidos, consciente de que, para poder ser igualitária no sentido racial, uma sociedade necessita previamente rejeitar os fundamentos inerentemente racistas da chamada civilização ocidental cristã (NASCIMENTO, 1982, p.34)

Partindo da assertiva acima, que a descolonização da educação e de toda a sociedade, nos coloque nas fretas, trincheiras e encruzilhadas de lutas para manter vivas as culturas e contribuições africanas e afro-brasileiras nessa sociedade genocida, racista, machista, excludente e desigual.

INCONCLUSÕES

Em tempos de isolamento social, as atividades virtuais nesse Novembro Negro, são alternativas viáveis para minimizar o sofrimento. Que nos aquilombemos e a ancestralidade africana seja nossa força. Porque necessitamos dessa sinergia para dar continuidade aos processos civilizatórios africanos e afro-brasileiro e todas as lutas empreendidas pelos movimentos negros, entidades, ongs, irmandades, religiões de matriz africana, com iniciativas coletivas e individuais.

REFERÊNCIAS

LIMEIRA, José Carlos. QUILOMBOS para Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez (in memoriam). Repertório, nº 17, Salvador, 2011.2 p.195-197.

NASCIMENTO, Abdias do. Uma Mensagem do Quilombismo. In: NASCIMENTO Abdias. O Negro Revoltado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1882.

NASCIMENTO, Maria Beatriz do. O Conceito de Quilombo e Resistência Cultural Afrodiáspora. n. 6-7, São Paulo, 1985, p. 41- 49.

 

1 Doutoranda em Educação e Contemporaneidade Pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da Universidade do Estado da Bahia; Professora da Educação Básica na Secretaria Municipal de Educação de Salvador; filiada à ANPED GT 21 Relações Étnico-Raciais e Membro da Irmandade do Rosário dos Pretos do Pelourinho.