O projeto Memória ANPEd divulga duas entrevistas realizadas com pesquisadoras cujas trajetórias e posicionamentos dizem muito sobre a Educação na região Norte do país. Arminda Mourão (UFAM) e Ivanilde Apoluceno (UEPA) fizeram seu percurso de formação paralelamente à própria consolidação da pós-graduação na região. Educadoras e pesquisadoras reconhecidas, ambas reivindicam a superação de um desenvolvimento desigual de país que impõe desafios de se pesquisar no Norte, assim como a defesa de uma identidade amazônica aos programas e a visibilidade aos saberes produzidos ali - para tal, a ANPEd aparece como importante espaço de solidariedade e fortalecimento dessas lutas.
Entrevistas: João Marcos Veiga. Imagens e edição: Camilla Shaw
Arminda Mourão teve seus primeiros contatos com a ANPEd através das conferências em Educação na década de 1980, final da ditadura militar. Oriunda da primeira turma de mestrado da Universidade Federal do Amazonas, foi estreitar esses laços com a Associação, no entanto, apenas em seu doutoramento na PUC-SP ao final da década seguinte. Em 1997 a avaliação de diversos programas foi rebaixada, incluindo os da UFAM. Nesse momento a ANPEd liderou um movimento de defesa e consolidação de programas em diferentes partes do país. “Ali eu vi uma ANPEd extremamente solidária, transparente. A construção do coletivo”, relembra. Esse contexto também marca, igualmente com o apoio da Associação, um esforço de fomentar uma identidade amazônica aos programas da região. Coordenadora do PPGEd da UFAM nos períodos de 2004-2007 e 2014-2018, Mourão enfrentou a questão da dificuldade de ensinar e pesquisar na região. “Não é assimetria, mas desenvolvimento desigual intencional”, aponta. Igualmente defende o reconhecimento para particularidades dessa produção (como a importância do livro em comparação aos periódicos) e do conhecimento amazônico, em sua relação com as águas amazônicas, com a educação indígena, assim como a necessidade de uma internacionalização no próprio território dos países amazônicos. Revendo essa trajetória, Arminda Mourão reafirma a necessidade de defender a ANPEd enquanto entidade autônoma e democrática onde exatamente se reconhecem essas diferenças. “Defender a ANPEd é uma tarefa de todos nós pesquisadores.”
Ivanilde Apoluceno tem o diploma número 1 da graduação em Filosofia da Universidade Federal do Pará, conquistado em fins da década de 1970 - momento de restrição de acesso à educação e mesmo a autores e livros durante a ditadura militar. Com o mestrado na UFPB, estudando educação popular, se achou na academia. A Filosofia da Educação era a possibilidade de uma reflexão crítica sobre a realidade educacional, concepções de mundo. Posteriormente, para seguir a formação, o sudeste era a única possibilidade - mesmo quando concluiu o doutorado na PUC-SP, em 2002, ainda não havia programas de doutorado na região Norte. Como relembra, o papel da ANPEd foi importante neste momento de incentivo a proposições e aprovação de novos programas junto a Capes, assim como no envolvimento entre professores e pesquisadores de todo o Brasil. “A ANPEd era motivadora, relembra. Já o pensamento de Paulo Freire permeia toda a atuação da pesquisadora, colocando na prática sua pedagogia em frentes diversas como a docência na UEPA (onde atua desde o final da década de 1980), núcleos de pesquisa, na Educação de Jovens e Adultos e em projetos de extensão junto a hospitais, lar de idosos, escolas públicas, mulheres vítimas de escalpelamento e comunidades quilombolas. Essas ações de reconhecimento de saberes diversos resultam em projetos como as Cartografias do Saber, de 2003, referência na área e de importante impacto social. Apoluceno chama a atenção para dificuldade de se pesquisar e ser reconhecida como pesquisadora da Amazônia. “Mas também é algo que instiga e desafia.” Nesse sentido, ela saúda a ANPEd Norte para dar visibilidade a temáticas amazônicas e mesmo para o diálogo entre pesquisadores e programas da região. Coordenadora do FORPREd Norte e do FEPAE em diferentes momentos, acredita ser a ANPEd um espaço de aprendizado e convivência de trabalho coletivo.