Mais do que valorização econômica, urge-se à social! | Colaboração de texto por Edmar Augusto Semeão Garcia (GT 18) e Douglas Franco Bortone

No dia 15 de outubro comemorou-se o dia do Professor. Uma data que nos traz um sentimento paradoxal. Ao mesmo tempo que é preciso celebrar a data; nos encher de orgulho por este dia; e lutar pela valorização desta profissão, vemos que o(a) educador(a) carece de maior reconhecimento social e financeiro. Observa-se que pensar sobre a carreira docente deveria ser comemorado/reconhecida todos os dias.

Ainda que tenhamos claro a necessidade da Professora e do Professor no desenvolvimento do país, tendo em vista o papel que possui na formação das profissões, esse discurso é entendido, porém, pouco reconhecido. É preciso analisar porque um país que através dos seus governantes, discursa acerca de promover um desenvolvimento, mas que pouco investe na educação. E pior. Combate as instituições de ensino e profissionais que nela fazem parte.

É preciso (re)pensar algumas situações. Evidentemente as situações não estão colocadas de forma consequente, contudo, nos ajudam a entender. A primeira corresponde ao fato do país ainda não ter conseguido universalizar o ensino. Ainda somos um país com uma taxa bastante elevada de analfabetos e um percentual abaixo dos 30% de indivíduos com diploma de ensino superior segundo o relatório da OCDE em 2019. Embora a partir de 2003 o país tenha vivido uma fase de expansão do ensino superior, um grande incentivo a criação de escolas técnicas e aumento nas vagas na educação básica, isso não significou a universalização por assim dizer.

Políticas fundamentais para o objetivo de diminuir o número de analfabetos e promover o acesso de camadas sociais que outrora não conseguiam acessar a universidade. Tais políticas que recentemente tem sido combatida com a finalidade de marginalizar as instituições federais através de figuras cujo compromisso é acentuar as desigualdades sociais.

O segundo elemento importante corresponde ao baixo interesse do brasileiro em leitura. Segundo o Instituto Pró-Livro, a média de leitura é de 2,96. Um problema que carece maior exploração tendo em vista que há fatores econômicos que ajudam a entender essa baixa procura por livros. Além disso, a presença das notícias falsas, chamadas de fake News, tem obtido um grande espaço nas mídias sociais. No caso das(os) docentes, ela atinge diretamente em questões como “doutrinação”, “sexualização”, “drogas”, e “militantes partidários”. Todos adjetivos que visam acabar com a imagem desta(e) profissional que leciona apesar de todas as dificuldades sobretudo na educação básica pública.

Apesar de ser um direito constitucional, a greve realizada por agentes da saúde e da educação tem um peso diferente. Quando as(os) educadoras(es) realizam greve por reivindicações de trabalho (e não apenas para melhorias da sua carreira), estamos pensando em defender o ensino público e combater as atrocidades que os diferentes governos praticam. É lutar pela manutenção de um meio de subsistência que a maioria da sociedade usufrui e depende. Em suma, se não fosse os serviços públicos muitas pessoas não acessariam serviços nas áreas da educação e saúde, por exemplo. É evidente que tais serviços tem seus defeitos. Mas, há de ressaltar as qualidades e a grande utilidade que possuem. Por isso a defesa!

No entanto, não é assim que somos vistos. Tampouco somos acompanhados na luta. Somos “vagabundos”, “não gostamos de trabalhar”, “não podemos ver uma possibilidade de ficar a toa” que abraçamos. E assim nos leva para o quarto elemento. Cada vez mais parece ser dispensável a figura dos professores. A pandemia da Covid-19 realçou mais ainda essa desvalorização.

A pandemia que nos trouxe a necessidade de isolamento, nos colocou em uma situação onde as aulas passaram a serem ofertadas de modo remoto. A partir dessa situação, nenhum(a) docente está atuando presencialmente nas escolas. Estamos restritos a internet e suas ferramentas. Nesse sentido, à medida que as atividades têm sido retomadas e a escola não, novamente nos deparamos com adjetivos negativos e que nos colocam sempre em situação de desqualificação. Basta observar os dizeres dos últimos ministros da Educação que, deveriam ser os primeiros a representar a categoria e propor uma defesa. Contudo, não é esse o objetivo deles. Nos rebaixar a todo momento é o fim.

Há de ressaltar que ainda há a necessidade de distanciamento. Entretanto, como nunca tivemos políticas de combate a pandemia, tendo um governo negacionista e que dá péssimos exemplos, as principais atividades não ficariam restritas. E é nesse aspecto que tenho receio em como continuará a nossa imagem.

Ora, somente a educação pública que resiste a reabertura havendo uma disputa jurídica seja para autorizar, seja para desautorizar. A rede particular pelo país tem se mobilizado para reabrir, uma vez que o governo pouco fez para que as escolas particulares sobrevivessem. Aliás, a grande reflexão a ser feita sobretudo o papel do chefe de Estado e de governo não fora feita pelos proprietários de escolas e pela sociedade. Afinal, em meio a tanta destruição, pouca mobilização tanto da oposição quanto daquele eleitorado que o elegeu.

É sintomático observar que estes elementos ajudam a entender porque há anos as licenciaturas tem tido pouca procura. Além dos motivos expostos, há tantos outros que impactam a realidade especificamente daquela(e) profissional que atuará na educação pública. Consequentemente, sujeitos distantes de uma formação pedagógica adequada, assumem os papeis de ensino nas instituições escolares.

É urgente a luta pela nossa valorização financeira. Devemos reivindicar novos concursos, melhor planos de carreira e condições de trabalho. Devemos nos unir. Mas, mais do que valorização econômica, urge-se à social. Sem ela, seremos sempre atacados.

É preciso modificar esta dura realidade. Como diria o nosso Patrono da Educação e tão atacado Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.” A educação é a base para o desenvolvimento do país. Se queremos uma sociedade mais justa; que respeite as diferenças; que reconheça a importância de todas as áreas e que todas as pessoas tenham oportunidades, devemos lutar pela manutenção da educação pública e também para aumentar os investimentos.

Deve-se lutar para que seja política permanente de valorização e não política de desigualdades como tem sido. A luta não será fácil, pois quando se olho o redor, tudo o que percebemos é o fascismo cada vez mais sendo naturalizado em nossas estruturas sociais. Luta essa que se deve começar no diálogo, na partilha, na construção de comitês populares e em ações que fomentem políticas sociais de valorização do magistério.

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Edmar Augusto Semeão Garcia, Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Alfenas. Especialista em Ensino de Sociologia pela UFSJ. Bacharel em Ciências Humanas pela UFJF. Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela UFJF.
 
Douglas Franco Bortone, Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Alfenas. Pós-Graduando em Ensino de Sociologia no Ensino Médio pela Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) e Bacharel em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).