Confira a entrevista do Boletim ANPEd com a coordenadora do GT 24 da Associação, a professora Marcia Strazzacappa, que analisa a atuação do GT de Educação e Arte e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.
Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre Educação e Arte dentro do GT 24?
Sendo o GT 24 o mais jovem GT da Associação, vale ressaltar que sua criação, por si só, já permitiu o aprofundamento das discussões sobre a interface Educação e Arte no país. O GT viabilizou o crescimento e o amadurecimento no debate epistemológico, respeitando as especificidades da área de Arte e seu diálogo com as demais áreas, tendo, inclusive, como afirmado no documento sobre o histórico do GT, “atraído para a ANPEd pesquisadores que não a frequentavam anteriormente por não a reconhecerem, até então, como espaço propício ao debate de suas pesquisas nas áreas de artes visuais, música, dança, literatura, teatro, entre outras.” (Histórico de Criação do GT24) Ao se constituir um GT com um foco específico sobre Arte, criou-se um espaço de concentração desses pesquisadores, logo, um espaço privilegiado para o aprofundamento das discussões sobre educação e arte. A diversidade de linguagens artísticas dos campos de formação e de atuação de pesquisadores e docentes é um dos aspectos que tem contribuído para a riqueza das discussões dentro do GT. Isso promoveu a qualificação e a ampliação do debate para além do ensino de arte na escola, abarcando discussões sobre a importância da arte da estética na formação dos indivíduos.
Como coordenador(a) do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?
São várias as questões que poderíamos destacar como: a presença de disciplinas no campo da arte nos cursos de formação de professores (pedagogia); a presença da arte na Educação Infantil; a arte prevista como atividade a ser desenvolvida no contra turno nas escolas de período integral; as especificidades das linguagens artísticas como conteúdo do ensino de arte na escola, entre outros. Porém, talvez a questão mais contundente para o GT, no momento, diga respeito a um PL que está em tramitação em Brasília. Trata-se de um Projeto de Lei, PL 7032/2010 que propõe a alteração dos 2º e 6º parágrafos do artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/96, sugerindo a seguinte redação: “§ 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o §2º deste artigo”. O PL recebeu um parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça em novembro passado e seguirá os trâmites da Câmara ao longo de 2015. Essa alteração na LDB terá um impacto direto nos cursos de formação de professores (licenciaturas) das diferentes linguagens em todo país. Mesmo com a ampliação, via REUNI, na oferta de cursos superiores no campo da arte, será que haverá licenciados suficientes para atender a demanda?
Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?
As reuniões do GT têm contado com a presença de membros que estão acompanhando o grupo desde os primórdios de sua criação. Nesses encontros são levantados e amadurecidos os temas considerados centrais para o fortalecimento do GT e para o aprofundamento das discussões sobre a interface educação e arte. Na última reunião, por exemplo, o trabalho encomendado versou sobre a presença de disciplinas de arte nos cursos de formação de professores, questão relevante à época. Para 2015, o indicativo é realizar uma análise sobre as implicações do PL acima citado. Teremos ainda a honra de receber o professor Luis Porter como convidado internacional. Porter é formado em Administração, Planejamento e Políticas Públicas em Educação pela Universidade de Harvard, USA. Atualmente é professor emérito da Universidade Autónoma Metropolitana na Cidade do México.
A cada reunião temos avaliado, revisto e aprendido muito sobre a própria estruturação das Reuniões. Já experimentamos alguns formatos, retomando ações e substituindo outras. A oferta de mini-curso, por exemplo, passou de encomendado para livre demanda, mediante inscrição, o que será mantido para 2015. Temos articulado junto a outros GTs as sessões especiais buscando temáticas que permitam a ampliação dos debates e o intercâmbio entre pesquisadores.
Quanto ao balanço do encontro em Goiânia, o retorno das reuniões da ANPEd para o espaço físico das universidades foi um ponto muito elogiado pelo GT. Isso não foi por acaso. Foi em Goiânia, na UFG, que o GT pode usufruir da melhor infraestrutura até então reservada para suas reuniões. A sala da escola de música permitiu a acomodação de todos, com boa acústica, visibilidade, conforto térmico, mesmo com o não oferecimento de coffee break e os breves cortes de energia. Embora esse aspecto da infraestrutura não seja da alçada de discussão do GT na estruturação das reuniões nacionais, quis fazer esse destaque para enfatizar o quanto a adequação do espaço físico interfere na participação das pessoas e na qualidade das discussões. O indicativo de que na próxima reunião da ANPED o GT será alocado na Igrejinha da UFSC muito nos alegra.
Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância do Grupos de Trabalho, em especial do seu GT, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira? E qual a relação de seu GT com encontros nacionais e internacionais?
Os GTs são compostos por docentes e pesquisadores das diferentes linguagens artísticas que estão ativamente atuando em suas instituições, em seus estados, em suas regiões e participando em outras associações como ABEM, ABRACE, ANPAP e FAEB, respectivamente, Associação Brasileira de Ensino Musical, Associação Brasileira de Pós-graduação e Pesquisa em Artes Cênicas, Associação Nacional de Artes Plásticas e Federação de Arte Educadores do Brasil. Muitos estão igualmente em cargos, comissões, assessorias, entre outros, como líderes e formadores de opinião. A presença de membros do GT 24 nesses diversos espaços e sua participação ativa em diferentes frentes permitem o entrecruzamento de informações e a reafirmação de ações que, por sua vez, têm contribuído para as mudanças efetivas tanto nas práticas pedagógicas de arte na escola quanto na formação estética de professores (pedagogos e licenciados).
Os encontros regionais da ANPEd em suas diferentes edições e composições, têm contado com a participação de membros do GT na condição de organizadores, comissão científica e/ou pareceristas. Além das ANPEds regionais, destaco no âmbito nacional a participação de membros do GT em dois importantes eventos, quais sejam, o XVII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), ocorrido em Fortaleza, CE e o XXIV CONFAEB congresso Nacional da Federação de Arte Educadores do Brasil, ocorrido em Ponta Grossa, PR. No âmbito internacional, a participação no INSEA International Society of Education and Art, em Melbourne, Australia.
Que sugestões de leituras você indicaria para alguém que queira se inteirar melhor sobre as discussões relacionadas a temática de seu GT?
Sem dúvida sugeriria para os iniciantes os “clássicos brasileiros” da Educação e Arte que trazem um contexto histórico das discussões presentes no GT como Ana Mae Barbosa, João Francisco Duarte Júnior, Mariazinha Fusari, Mirian Celeste, alguns dos quais já estiveram presentes em discussões do GT. Poderia indicar muito mais, mas temo que ao recomendar uns e não outros isso possa ser mal interpretado pelos colegas. Para citar alguns títulos desses autores, sugiro: “Arte-educação: leitura no subsolo” (Cortez) e “A imagem no ensino da arte: anos 80 e novos tempos” (Perspectiva) ambas obras de Ana Mae Barbosa; “Arte na educação escolar” (Cortez) da saudosa Maria Fusari e Maria Heloisa Ferraz; “Por que Arte-educação?” (Papirus) de João Francisco Duarte Júnior. Outra sugestão seria ler artigos acadêmicos publicados pelos atuais e antigos membros do GT (alguns publicados na própria Revista Brasileira de Educação) que também pode ser uma forma de entrar em contato com o pensamento da área.
Deixamos aqui também um espaço para você abordar algum outro assunto de relevância para o GT, caso considere importante.
Gostaria de falar sobre algo ocorrido no Rio de Janeiro, mais especificamente, na reunião da diretoria com os coordenadores de GT de fevereiro de 2014. Trata-se da ciranda que puxei no encerramento do encontro a qual você registrou em vídeo. Após a dança circular, você me entrevistou sobre o que me motivara a propor a dança naquela ocasião. A entrevista com a foto foi matéria que saiu no boletim da Associação. À época, acabei não comentando, mas hoje, ao responder a pergunta sobre o papel do GT na estruturação das reuniões da ANPEd, recordei-me do saudoso professor Angel Pino. Ele presenciou em 2007, no salão do Hotel Glória, em Caxambu, a assembleia do GT ser concluída com uma ciranda, com todos de mãos dadas, cantando e dançando ao som do piano. Emocionado, aproximou-se de nós e afirmou sua satisfação ao ver finalmente a arte presente de forma contundente na ANPEd. Fiquei a imaginar o que ele teria dito (e sentido) ao ver a ciranda naquela reunião do Rio de Janeiro que foi, propositalmente, a mesma ciranda cantada e dançada em 2007. Talvez ai esteja um dos papéis do GT Educação e Arte na ANPEd: mais que fomentar grandes discussões teóricas sobre a arte na educação nacional, relembrar aos participantes da associação por meio de pequenas ações que a arte faz parte do ser humano e que precisamos dela para reafirmar nossa humanidade.