Confira a entrevista especial do Boletim Anped com o coordenador do GT 03 da Associação, o professor Geraldo Magela Pereira Leão (UFMG), que analisa a atuação do GT Movimentos Sociais, Sujeitos e Processos Educativos e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.
Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre movimentos sociais e processos educativos dentro do GT 03?
Como em qualquer área, os debates e estudos refletem questões que a dinâmica social traz à cena. Em nosso GT, especialmente pelo recorte a que se propõe, essa relação entre conhecimento e sociedade é muito forte. Ele nasceu nos anos 80, no contexto da “redemocratização” brasileira, quando os movimentos sociais estavam se rearticulando. Em sua fundação o grupo reunia pesquisas que abordavam a temática da educação no campo. Depois de uma década de atuação, impôs-se a necessidade de ampliar a discussão para compreender as relações entre o campo educativo escolar e não-escolar e os novos movimentos sociais que emergiam desse contexto. Vários trabalhos e pesquisas apresentados no GT trouxeram para a pauta da Anped o debate sobre as relações entre educação e movimentos sociais, os paradigmas de análise dos movimentos sociais, os traços e as formas de organização dos novos movimentos sociais, os atores e suas experi6encias emergentes no cenário, os processos educativos (saberes, práticas e valores) produzidos nas ações etc. Em 2010 nosso GT passou a se denominar Movimentos sociais, Sujeitos e Processos Educativos. Não se trata de uma simples mudança de nome, mas do reconhecimento de que as formas de mobilização e atuação dos movimentos sociais estão se reconfigurando a partir das últimas décadas. Emergem ações coletivas diversificadas, que se articulam em redes sociais mais amplas, sejam midiáticas ou não, que convivem e muitas vezes atuam em parceria com os movimentos “tradicionais”. Nessas ações, as pessoas tendem a se engajar a partir da afirmação de uma identidade subjetiva e identitária. Desta forma, o desafio do GT é incorporar novos temas e abordagens que permitam compreender esse novo cenário, fomentando a discussão da área em torno do tema.
Como coordenador do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?
Vivemos o ano passado uma grande mobilização que ficou conhecida no Brasil como Jornada de Junho. Há muitas interpretações sobre os fatos que marcaram os protestos, mas eles nos trazem um conjunto de aspectos que podem se constituir em uma pauta de debates para o GT. Na Anped de Goiânia em 2013 tivemos uma mesa-redonda que nos apontou vários desses aspectos como a relação dos movimentos com as redes sociais digitais, a proposta de uma organização horizontal e descentralizada, a relação com movimentos transnacionais, os conflitos em torno de questões relativas à gestão das cidades etc. Esses movimentos partem de um contexto como o das sociedades latino-americanas, marcado pela concentração de renda e reprodução das desigualdades sociais e expressaram isso na diversidade de bandeiras presentes nas mobilizações das últimas décadas. Isso mostra que a sociedade continua viva e se movimentando e a área precisa acompanhar esse tal movimento. Esses e outros temas necessitam entrar na agenda do GT buscando compreender os processos educativos que estão sendo produzidos pelos atores sociais contemporâneos.
Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?
Considero a forma de organização da Anped muito democrática, uma vez que abre possibilidades para que os GTs e seus membros possam participar efetivamente do planejamento e organização das Reuniões. No entanto, as Reuniões Anuais dificultavam esse processo, pois nem sempre contávamos com tempo e condições ideais para ampliar as consultas. Como a maioria dos GTs, nossa articulação começa ao final das reuniões anuais, quando definimos temas e deliberamos sobre nossa organização e sobre as ações a serem implantadas no próximo ano. A partir desse momento a articulação passa a ser à distância, por meio de consultas aos/às participantes do grupo. O encontro de Goiânia, do meu ponto de vista, referendou uma série de mudanças implementadas nos últimos anos que podem dar novo vigor à nossa Associação, criando condições para uma melhor articulação interna dos GTs. É importante, por exemplo, buscar alternativas para que as pessoas que participam do GT se encontrem mais vezes para discutir essas questões no intervalo entre as Reuniões Nacionais.
Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância dos Grupos de Trabalho, em especial do GT 03, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira? E qual a relação do GT 03 com encontros nacionais e internacionais?
Os GTs da Anped se formam a partir do próprio campo de atuação e luta pela educação no país. Se olharmos a dinâmica de criação e extinção dos grupos, podemos identificar o movimento da própria área e sua relação com as temáticas nacionais. Pelo GT 03 passaram pesquisadores/as e suas temáticas de pesquisa que, assim como ocorreu com outros grupos, constituíram novos GTs. Isso se deu em virtude da visibilidade que determinados temas passaram a ter na sociedade e na pauta educacional brasileira. Nesse sentido, os GTs constituem um espaço não apenas de divulgação de pesquisas concluídas, mas de produção de conhecimentos e de articulação política dos pesquisadores e docentes. As discussões produzidas no âmbito dos GTs da Anped permitiu que nos posicionássemos decisivamente em vários momentos da política educacional brasileira, nos manifestando sobre temas como o direito à educação, financiamento público, universalização, currículo, mas também os direitos e o reconhecimento de grupos marginalizados em nossa sociedade. Seria interessante conhecer as várias moções aprovadas na história das Reuniões Anuais para ilustrar esse cenário.