Confira a entrevista especial do Boletim ANPEd com o coordenadora do GT 21 da Associação, o professor Erisvaldo Pereira dos Santos, que analisa a atuação do GT de Educação e Relações Étnico-Raciais e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.
- Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre Educação e Relações Étnico-Raciais dentro do GT 21?
O GT-21 tem se consolidado como espaço privilegiado de socialização da pesquisa sobre educação e relações étnico-raciais no Brasil. Os trabalhos de pesquisa expressam bem o compromisso com uma ciência socialmente referenciada e comprometida com mudanças no cenário das relações raciais no Brasil. Do ponto de vista acadêmico, observa-se que os objetos e temas de investigação vão se diversificando à medida que os Programas de Pós-Graduação em Educação deslocam-se de uma discussão genérica sobre a diversidade racial e cultural brasileira, desenvolvendo investigações sobre questões específicas relacionadas ao racismo na educação e às desigualdades raciais na sociedade brasileira, à intolerância contra as religiões de matrizes africanas, às políticas de ação afirmativas, às africanidades, à implementação das Leis Federais 10.639/03 e 11.645/08, às comunidades quilombolas, à educação indígena e educação intercultural. Do ponto de vista político, o GT-21 tem acompanhado juntamente com os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (NEABs) e Associação Nacional de Pesquisadores Negros/as (ABPN) como esses temas e objetos têm sido abordados no Plano Nacional de Educação e na formação de professores. O crescimento das pesquisas em torno dessas questões revela também um movimento da militância negra em busca de um instrumental teórico e metodológico que contribua para produzir intervenções sistemáticas na realidade brasileira.
- Como coordenador(a) do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?
Ainda não conseguimos avançar em estudos comparados sobre as questões da educação das relações étnico-raciais na América Latina e Caribe. Creio que quando avançarmos em direção a pesquisas comparadas, daremos um salto qualitativo não somente em termos de abordagens teóricas e metodológicas, mas também em termos de respostas às questões de nossa realidade.
- Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?
As Reuniões Nacionais da ANPEd são definidas a partir das pautas dos Grupos de Trabalho que retratam a pesquisa em educação no Brasil, articulando objetos e temas que são caros à educação do povo brasileiro. O último encontro foi mais uma oportunidade de socialização da produção científica em Educação, que tem assumido o compromisso de um conhecimento socialmente referenciado.
- Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância dos Grupos de Trabalho, em especial do seu GT, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira? E qual a relação de seu GT com encontros nacionais e internacionais?
Ao retratar as questões e os desafios da educação brasileira por meio da pesquisa científica, os Grupos de Trabalho assumem a tarefa de produzir uma episteme que evidencie, de forma crítica, as clivagens subjacentes nas políticas públicas e nas práticas curriculares da educação no Brasil. O êxito dessa tarefa está relacionado ao diálogo realizado com a produção científica internacional, através do fomento de trocas que possam contribuir para o respeito e a valorização da alteridade. Nesse sentido, o GT-21 tem buscado o diálogo com a produção da África do Sul e dos Estados Unidos.
- Que sugestões de leituras você indicaria para alguém que queira se inteirar melhor sobre as discussões relacionadas à temática de seu GT?
Para compreender bem e inteirar-se sobre a temática do GT-21 é preciso conhecer a produção bibliográfica sobre as relações raciais no Brasil, identificando as clivagens e as tensões aí existentes, tanto no que se refere aos trabalhos da Escola Paulista de Sociologia quanto na produção acadêmica do Nordeste, explicitada em obras da Escola Nina Rodrigues e de Gilberto Freire. De certa maneira, a partir de ações dos movimentos negros as tensões e clivagens dessa produção reverberam na pesquisa sobre desigualdades raciais, nas demandas por políticas de ação afirmativas na educação brasileira e nas conquistas de uma legislação antirracista. Sem conhecer o debate sobre as relações raciais no Brasil será muito difícil entender o significado de um GT que aborde a temática a Educação e relações étnico-raciais. Com efeito, para inteirar-se sobre nossas discussões na educação, a pessoa interessada pode começar com uma obra pioneira que foi organizada por Kabengele Munanga no final da década de 1990, intitulada “Superando racismo na escola”, pois publicação coincide com as discussões iniciais de organização deste GT que, dentre outros trabalhos, traz contribuições das pesquisas de Ana Célia da Silva, Nilma Lino Gomes e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Outra obra interessante foi organizada por Iolanda de Oliveira, com o título “Cor e Magistério”, refletindo não apenas o racismo na educação, mas como essa prática tem a ver com o ideal de branqueamento presente na sociedade brasileira.
- Deixamos aqui também um espaço para você abordar algum outro assunto de relevância para o GT, caso considere importante.
Para concluir esta entrevista, quero apenas destacar um desafio que, no meu entendimento, está posto para o GT-21. Trata-se do estatuto e impacto das pesquisas em educação e relações étnico-raciais no currículo de formação de professores e nos cursos de Pedagogia. Digo isso porque tenho enfrentado um debate na instituição em que trabalho, onde essa discussão tem sido pulverizada, de forma genérica, em questões de diversidade, sob o argumento de que a legislação educacional brasileira não estabelece obrigatoriedade do trato dessa temática como disciplina do currículo escolar. Indico este desafio porque em uma proposta de mudança curricular do curso de Pedagogia, a disciplina obrigatória “Educação e relações étnico-raciais” passa a ser substituída por uma disciplina com o nome “Sujeitos e diversidades”, sem que isso tenha sido resultado de um diálogo com os sujeitos que pesquisam a temática das relações raciais na referida instituição. Ora, com esse tipo de proposta fica evidenciado que no campo da educação ainda tem muita gente que não quer enfrentar as especificidades e as lutas dos sujeitos por um currículo socialmente referenciado nos embates políticos e nas pesquisas acadêmicas.
Aproveito esta oportunidade para convidar pesquisadores e pesquisadoras do campo da educação e relações étnico-raciais a integrarem-se ao nosso GT-21 também através do facebook: https://www.facebook.com/groups/335801323252177/ , onde já temos a adesão de 280 participantes, sendo um espaço de socialização de algumas pesquisas sobre nossa temática.
Erisvaldo Pereira dos Santos – Coordenador do GT-21 Anped