Confira a entrevista especial do Boletim ANPEd com o coordenador do GT 17 da Associação, o professor Alexandre Simão de Freitas, que analisa a atuação do GT de Filosofia da Educação e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.
- Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre Filosofia da Educação dentro do GT 17?
O GT 17 - Filosofia da Educação – comemorou recentemente 20 anos de existência, tendo realizado, na última Reunião Nacional, uma reflexão sobre sua própria trajetória, através de trabalhos apresentados por dois integrantes do seu núcleo fundador, os professores Antônio Joaquim Severino (USP/UNINOVE) e Bruno Pucci (UNIMEP). Esse é um fato importante porque evidencia não apenas a consolidação do Grupo como o esforço das últimas coordenações em efetivar um conjunto de atividades que visam resistir à tendência de recuo ou exclusão de disciplinas humanas dos currículos da Educação superior. Nesse contexto, os integrantes do GT 17 compreendem que a tarefa da Filosofia da educação precisa ser dupla, por um lado, aprofundar nossa reflexividade em torno das próprias tarefas das Ciências Humanas e Sociais, em geral, e da Educação, em particular, e, por outro, mobilizar investigações mais sistemáticas acerca da racionalidade e da consistência dos conceitos educacionais fundamentais, tomando como horizonte a especificidade da Educação e da Filosofia da educação. Assim, não casualmente, o GT tem estimulado um debate em torno das bases éticas e políticas da educação, bem como das suas pressuposições epistêmicas, focalizando o tratamento analítico da ideia de formação humana e sua interface com outras questões da área como a formação profissional e cultural do educador. Desse modo, consideramos de modo bastante positivo a forma como as reflexões vêm sendo conduzidas no âmbito do GT.
- Como coordenador(a) do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?
Eu fui indicado para assumir a coordenação do GT 17, juntamente com o professor José Pedro Boufleuer, na última Reunião Anual da Anped. Nesse sentido, estamos buscando encaminhar as decisões construídas pelo próprio Grupo e pelas duas últimas coordenações. Basicamente, o GT estabeleceu como seus objetivos principais: proporcionar o estudo de temas e autores clássicos que estão na fronteira entre filosofia e educação; refletir sobre a problemática educacional brasileira e internacional, priorizando o enfoque filosófico; fomentar pesquisas entre os membros do GT e motivar novas gerações para a ocupação com problemas filosófico-educacionais. De forma mais específica, almejamos ampliar e diversificar a participação de pesquisadores e estudantes vinculados aos debates do GT, aprimorando o processo de avaliação dos trabalhos em consonância com o Comitê Científico e desencadeando uma política de publicação dos textos apresentados nas Reuniões nacionais. Mas buscamos, sobretudo, garantir uma maior inserção político-acadêmica do GT no interior da própria Anped, uma vez que as reflexões desenvolvidas pela Filosofia da educação podem contribuir de modo profundo para os debates acerca da Educação em curso na sociedade brasileira.
- Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?
Antes de tudo, vale lembrar que em função da própria natureza e da sua forma de organização, entendemos que os Grupos de trabalho expressam o próprio espírito da Anped. No ano de 2013, especificamente, eu ainda não havia assumido a coordenação do GT 17, estando no encontro em Goiânia apenas na condição de participante do mesmo. Contudo, no decorrer das atividades e nos momentos coletivos de avaliação ouvimos vários relatos de que, nos últimos anos, essa articulação vem se fortalecendo. Apesar de alguns indicativos apontarem também a necessidade de um maior contato entre os GTs que compõem uma mesma subárea, e ainda entre GTs de subáreas distintas, uma vez que algumas temáticas focalizadas pelos grupos poderiam ganhar uma maior visibilidade com essas interações junto aos vários grupos.
- Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância dos Grupos de Trabalho, em especial do seu GT, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira? E qual a relação de seu GT com encontros nacionais e internacionais?
Nos últimos anos, o GT priorizou a circulação de informações entre os pesquisadores e estudantes, através de sua lista de discussão, mobilizando inclusive os líderes dos grupos de pesquisa articulados ao campo de Filosofia da educação. Como resultado, essas ações vêm contribuindo diretamente para ampliar, diversificar e qualificar as comunicações submetidas ao GT, e principalmente consolidar a interlocução com um circuito ampliado de eventos nos quais seus membros atuam como, por exemplo, o Seminário Internacional sobre Filosofia e Educação, promovido pela Universidade de Passo Fundo; o Simpósio Internacional em Educação e Filosofia, promovido pela UNESP; o Seminário Nacional em Filosofia da Educação, promovido pela Universidade Federal de Santa Maria; o Seminário sobre a Produção do Conhecimento em Educação, impulsionado pela PUC-Campinas; a Jornada de Filosofia da Educação, promovida pela Faculdade de Educação da USP; o Colóquio Internacional de Filosofia e Educação, organizado pelo PROPEd na UERJ. No âmbito internacional, destacamos ainda a participação e a colaboração nas ações do Congresso Latino-Americano de Filosofia da Educação, realizado pela Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação (ALFE); e no Congresso da Sociedade de Filosofia da Educação de Língua Portuguesa, promovido pela Sociedade Lusófona de Filosofia da Educação (SOFELP). Em todos esses eventos são discutidas e problematizadas questões vitais para a Educação brasileira, em suas múltiplas dimensões e enfoques. Mas, não poderíamos deixar de destacar aqui a relação sinérgica do GT 17 com a criação e consolidação da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE), cujo primeiro encontro nacional ocorreu no mês de setembro do ano passado na Universidade de Passo Fundo. O trabalho conjunto do GT com a SOFIE configura-se, em meu modo de ver, como um passo importante para o enfrentamento de alguns desafios urgentes da Educação brasileira, uma vez que nesses espaços reúnem-se pesquisadores com uma experiência histórica acumulada em reflexões acerca de temas e problemas que atravessam o campo pedagógico brasileiro na atualidade.
- Que sugestões de leituras você indicaria para alguém que queira se inteirar melhor sobre as discussões relacionadas à temática de seu GT?
A tentativa de responder a essa questão me levaria, necessariamente, a cometer algumas injustiças, tendo em vista a pluralidade e a qualidade da produção acadêmica vinculada direta ou indiretamente aos integrantes do GT 17. Por isso, eu indicaria, antes de tudo, os três artigos disponibilizados no próprio Portal da Anped que abordam o desenvolvimento histórico do GT-Filosofia da Educação. O primeiro artigo, Os 20 anos do GT Filosofia da educação e sua contribuição para a constituição do campo investigativo da Filosofia da educação de Antônio Joaquim Severino foi apresentado como trabalho encomendado na 36ª Reunião Anual da ANPEd. O segundo artigo, intitulado GT Filosofia da Educação - Ano 20: Contribuições da Teoria Crítica da sociedade, de Bruno Pucci foi discutido no minicurso da mesma reunião. E o terceiro texto As produções do GT-17 da ANPEd e o seu papel para o desenvolvimento da Filosofia da Educação no Brasil foi apresentado como uma contribuição dos professores Pedro Angelo Pagni e Cláudio Almir Dalbosco que estiveram à frente da coordenação do GT. Poderia indicar ainda a coletânea intitulada Filosofia da educação: posições sobre a formação humana, organizada pelos professores Avelino da Rosa Oliveria e Lílian do Valle, representantes do GT no Comitê Científico da Anped, e que aglutina vários textos apresentados nas sessões temáticas do Grupo, bem como livros recém publicados como Ética & Educação: outra sensibilidade da professora Nadja Hermann, e Teoria crítica, Filosofia e Educação, organizado por Eldon Mühl, Luiz Gomes e Antonio Álvaro Zuin, em homenagem ao professor Pedro Goergen. Em todas essas obras, os interessados nas reflexões do GT 17 poderão de defrontar com o rigor e a criticidade que funda e sustenta as reflexões em nossa área, mas insisto que seria praticamente impossível, nos limites dessa entrevista, indicar as principais referências e contribuições bibliográficas desenvolvidas pelos vários integrantes de nosso Grupo.
- Deixamos aqui também um espaço para você abordar algum outro assunto de relevância para o GT, caso considere importante.
Eu não poderia encerrar essa nossa conversa sem antes apontar a centralidade que a questão do lugar e da relevância do prisma oferecido pela Filosofia da educação na formação de professores, em nosso País, deve assumir nas discussões que o GT 17 pretende mover nas próximas Reuniões nacionais. Essa temática deverá, pouco a pouco, se constituir juntamente com a reflexão sobre a formação humana em um fio condutor no aprofundamento do problema da racionalidade, da fundamentação e da justificação dos saberes pedagógicos e das pesquisas educacionais concernentes. Nessa direção, com o apoio direto do professor José Pedro Boufleuer buscaremos aprofundar as relações entre a Filosofia da educação e a pesquisa educacional brasileira. Além disso, o GT pretende iniciar um ciclo de discussão em torno das principais abordagens antropológicas que informam nossas principais teorias filosóficas e educativas, priorizando inicialmente uma reflexão em torno da suposta excepcionalidade humana e a questão da animalidade, com vistas ao aprofundamento dos desafios da formação humana face ao avanço dos controles biopolíticos na contemporaneidade. No mais, reiteramos o trabalho coletivo e o clima de respeito mútuo que animam o GT 17.
Alexandre Simão de FreitasProfessor do Departamento de Administração Escolar e do Programa
de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação
da Universidade Federal de Pernambuco