A Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Anped), por meio do GT 07 – Educação de Crianças de 0 a 6, vem a público externar sua profunda indignação ante as condições de abandono e ausência de políticas públicas a que foram acometidas as crianças Yanomamis e seus familiares, condições essas que lhes tiraram o direito à vida. Nos últimos dias, a sociedade brasileira tem acompanhado um cenário de barbárie que revelou a política de genocídio do governo Bolsonaro e suas necropolíticas.
O sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), a invasão de terras indígenas, o avanço dos garimpos ilegais e a contaminação do solo e do meio ambiente demonstram ações concretas de um processo de genocídio deliberado e intencional. As cenas expostas em mídia nacional revelam a barbárie e a morte como espetáculo em um cenário de profundo abandono de crianças e adultos. As imagens ressaltam contextos de negação de direitos, em particular de proteção e provisão, que ferem a condição humana e colocam nossas crianças e suas famílias yanomamis em condições desumanas.
Foram quatro anos de profundo descaso com as pautas indígenas. As crianças e suas famílias buscaram resistir e existir em situação de ausência de direitos. Foram mais de 99 crianças yanomamis que morreram em decorrência da fome, da pneumonia e de doenças resultantes da contaminação do solo e da água. O cenário exposto nas mídias se agrava, quando se considera que tal fato foi acentuado em tempos de pandemia. Foram duas tragédias anunciadas e vivenciadas por aqueles que foram renegados pelo Estado. A fome e a desnutrição foram desveladas nos últimos dias; todavia, as condições que geraram a morte das crianças yanomamis têm origem em uma política de morte de amplo contexto, em que as diferenças e a diversidade não encontraram lugar em um projeto de sociedade desigual.
Quem cuida de nossas crianças yanomamis? Quem as protege? Quem lhes garante direitos? É preciso que o contexto e as imagens vistos nesta semana nos movam para uma profunda indignação contra todas as políticas de omissão, de abandono, de exclusão e de morte. É necessário lembrarmos dessas imagens para que nunca mais se repita aquilo que gerou a vista barbárie. A advertência adorniana de que “a exigência que Auschwitz não se repita é a primeira de todas” ajuda-nos à compreensão de que todas as vidas importam e que a dor da fome e o horror da morte das crianças yanomamis não sejam banalizadas ou esquecidas. Nossa luta com e pelas crianças deve ser uma luta cotidiana por uma condição de vida digna. Que os culpados sejam punidos e que as crianças yanomamis mortas pela fome e pela desnutrição não sejam esquecidas!
O GT 07 da ANPED está presente e não se cala frente à injustiça! Pelas crianças Yanomamis, nossa luta e nossa voz!