Neste XX Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, nós, educadores, estudantes e pesquisadores assumimos aqui, firmemente, uma posição em defesa de direitos fundamentais à vida e à educação: o direito de existir, de pensar, de fazer e de sentir; de produzir e fazer circular conhecimentos; de compartilhar posicionamentos e saberes, sem constrangimentos desqualificantes ou ameaçadores. Responder aos ataques que a educação, a pesquisa e a democracia brasileira vêm sofrendo se faz urgente! Assim, afirmamos nossos compromissos com a humanidade, a democracia e a educação construídos por meio do diálogo e com os direitos que buscam garantir a vida, a cidadania, a promoção da equidade e da justiça social. É em defesa destes direitos que fomentamos as insurgências frente ao pensamento único, à negação do outro, à destruição do ambiente e dos espaços democráticos. Durante o evento, orientados pelo campo da Didática, denunciamos políticas que retiram os investimentos na educação e negam a autonomia dos fazeres pedagógicos, tentando submetê-los a interesses do mercado e a formas únicas de propor formações docentes, currículos, didáticas e formatos avaliativos. Denunciamos o monopólio das instituições privadas na mercantilização da formação docente. Denunciamos o sucateamento e a precarização da escola pública por parte dos órgãos competentes e o negacionismo nesse momento tão sério e preocupante que atravessamos na saúde pública em nosso país. Destacamos a força que tem os professores e as professoras que, mesmo sem devido auxílio do estado, se reinventaram e se aproximaram de suas alunas e alunos, numa atitude de afeto revolucionário.
Em um movimento freireano de denúncias e anúncios, trouxemos inéditos viáveis em construção, potencializando a solidariedade, a horizontalidade dos olhares e formas de existir. Falamos e vivenciamos modos de fazer, sentir e saber que se contrapõem ao crescimento da miséria, da precariedade e da exclusão social de populações fragilizadas e subalternizadas por esse sistema social que prefere o consumo e a acumulação da riqueza monetária ao enriquecimento da vida e de suas possibilidades. Nosso compromisso com a educação é também um compromisso com a democracia e com um país para todes.
Vimos, portanto, manifestar publicamente nesta carta, nossa reafirmação da docência e das especificidades dos conhecimentos inerentes a ela como garantia para a democracia social e para o direito à educação, à aprendizagem e ao respeito de suas e seus sujeitos; educadoras e educadores, educandas e educandos. Contra a desumanização da vida e seu crescimento assustador, produzimos e reconhecemos ações (re)humanizadoras que, de forma pulsante, se fazem presentes em diferentes espaços sociais e educativos. Solidariedades diversas, em nome da igualdade ontológica e necessária a todos os seres humanos.
Educadores que somos, não aceitamos e não aceitaremos passivamente discursos e ações que nos desumanizam e aos nossos alunos e alunas. Contestamos veementemente, e denunciaremos sempre, o que descaracteriza nosso trabalho, nossa profissão e nossos compromissos com o país, com a educação, com a democracia e, sobretudo, com a qualidade social daquilo que conseguimos oferecer aos estudantes e colegas. É em nome dessa qualidade para todos, como aprendemos com o mestre Paulo Freire, que nos reunimos, produzimos, pensamos junto e dialogamos em eventos como este, destinados a promover um amplo diálogo com os diferentes atores sociais, a valorizar a profissão docente e favorecer a superação do “formato escolar” dominante.
E não por acaso, nesta edição, tematizamos a insurgência contra a tentativa de opressão atual que vimos sofrendo; mas também com Freire, sabemos que não há opressor quando não nos deixamos oprimir e, portanto, nos insurgimos, buscando visibilizar e socializar práticas educativas insurgentes.
Inspiradas/os por Paulo Freire e relembrando as motivações dos primeiros ENDIPES, afirmamos que as educadoras e os educadores do passado (alguns ainda presentes conosco) “cumpriram seu papel em nos trazer até este ponto”. Sabemos, também, que “nossa luta de hoje não significa que necessariamente conquistaremos mudanças, mas sem que haja essa luta, hoje, talvez as gerações futuras tenham de lutar muito mais. Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança”.
Entendendo, com Freire, que “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, é construir, é não desistir, é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”. Seguimos esperançando!
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2020
Coordenação geral do XX Endipe Rio 2020
Comitê Científico do XX Endipe Rio 2020
Comissão Organizadora do XX Endipe Rio 2020
Participantes do XX Endipe Rio 2020