Carta dos Educadores e Educadoras à sociedade, 13 de agosto de 2020.
Fechar Escola do Campo é crime! Despejar durante a pandemia é genocídio!
Nós, educadoras e educadores de toda a América Latina, vimos a público denunciar e repudiar o despejo do acampamento Quilombo Campo Grande e reivindicar a suspensão imediata da reintegração de posse, que prevê a retirada de mais 450 famílias da vila de moradores e da estrutura da Escola Popular Eduardo Galeano.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Partido Novo), tem usado a Polícia Militar para despejar e ameaçar crianças, idosos, mulheres e todos os/as moradores/as do acampamento, após ter anunciado suspensão como forma de desmobilizar as famílias. Hoje, dia 13 de agosto, pela manhã, a Escola popular Eduardo Galeano, que estava dentro do acampamento no Quilombo, foi demolida em ação truculenta de despejo. As escolas do campo já estavam sendo dizimadas, fechadas. As imagens referentes à demolição da escola mostram o real projeto do governo do estado para a educação dos trabalhadores do campo. As famílias seguem resistindo no local e tentam negociar a permanência na área. Até o momento, a área da escola foi reintegrada.
O acampamento Quilombo Campo Grande foi erguido há mais de 20 anos nas terras da antiga Usina Ariadnópolis, que pertencia à Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), falida no final da década de 1990. Parte dos antigos trabalhadores da usina, que ficaram sem indenização após a falência da empresa, hoje integram o acampamento.
Após a falência da usina, a área de aproximadamente 4 mil hectares ficou degradada por conta do monocultivo de cana-de-açúcar. Com a ocupação do MST, as famílias construíam uma escola, suas casas, plantações de café, milho e hortaliças, além da criação de galinhas. A agricultura local rende cerca de 15 mil sacas de café por ano e 55 mil sacas de milho. Os produtos cultivados sem uso de agrotóxicos são comercializados no Sul do estado, bem como em outras regiões de Minas Gerais.
O Quilombo Campo Grande é uma experiência da força coletiva, da justiça social em um país de latifundiários. As famílias sem-terra conquistaram o direito à terra, educação e moradia. Nos ensinaram a boniteza de ser mais, de produzir alimentos saudáveis, cuidar da terra e cuidar das pessoas.
Somos educadores, somos Quilombo Campo Grande!
*documento assinado por mais de mil professores e entidades da Educação