A defasagem nas bolsas de estudos, sem reajuste desde 2013, é tamanha que se tornou praticamente impossível para o estudante sobreviver mantendo dedicação integral à pesquisa
Dando sequência aos encontros com representantes da comunidade científica e autoridades de governo para apresentar as demandas da pós-graduação, a ANPG participou da 183ª reunião do Conselho Deliberativo do CNPq, no último dia 20 de março. Na ocasião, estiveram presentes os presidentes da Capes, Anderson Ribeiro Correia, e da Finep, Waldemar Barroso, além de Júlio Semeghini e Marcelo Morales, dirigentes do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações.
Vinicius Soares, diretor de Comunicação da ANPG, apresentou as duas propostas prioritárias da atual gestão, a Campanha Nacional pelo Reajuste das Bolsas e a destinação de parte dos recursos do fundo social do pré-sal para a ciência e tecnologia.
O representante dos pós-graduandos alertou para os impactos negativos para o desenvolvimento brasileiro, acarretados pela falta de recursos e de prioridade estratégica para a ciência e tecnologia. “O que está acontecendo no Brasil é um enorme desperdício de talentos, uma fuga de mão de obra altamente especializada para desenvolver outras nações porque não damos condições para o pesquisador prosseguir na carreira”, ponderou.
A defasagem nas bolsas de estudo, sem reajuste desde 2013, é tamanha que se tornou praticamente impossível para o estudante sobreviver mantendo dedicação integral à pesquisa. “Em 2013, a palavra de ordem das manifestações de junho era “mãos para o alto, R$3.20 é um assalto”. Pois bem, de lá pra cá a passagem de ônibus em São Paulo, estopim do movimento, chegou a R$4.30. Só a bolsa do pós-graduando continua o mesmo valor”, comparou Vinicius. A campanha nacional pelo reajuste ganhará novo impulso no próximo dia 28, com a jornada nacional de lutas dos estudantes, que tem essa questão como uma de suas principais pautas.
As agências de fomento e o MCTIC têm demonstrado sensibilidade para a urgência do reajuste das bolsas, tanto que, em palestra realizada na Fiocruz no dia 13/3, o presidente da Capes elencou a ampliação do financiamento como uma das prioridades de sua gestão. “Minha primeira ideia para a Capes é aumentar o orçamento, porque sem isso, as ideias serão só ideias”, afirmou, em relação às restrições financeiras que, entre outras coisas, impactam o reajuste das bolsas de estudo.
Sem projeto de desenvolvimento, explode desemprego entre mestres e doutores
E ainda que consiga passar o rubicão e conclua seu projeto de pesquisa, a persistir a realidade atual, nada indica que as portas do mercado estarão abertas para o novo profissional. Por isso, a ANPG tem defendido uma política permanente de valorização da ciência e tecnologia e dos pesquisadores, através da destinação de parte dos recursos do fundo social do pré-sal para a área. Atualmente, existe um projeto de lei sobre o assunto tramitando no Senado Federal.
Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o processo de desindustrialização do país fez com que a indústria de transformação regredisse a menor participação no PIB desde 1947, sendo responsável por apenas 11,3% do total. O impacto dessa baixa na absorção de mão-de-obra qualificada é brutal e ajuda a compor um cenário de desemprego avassalador entre mestres e doutores.
“É um escândalo que 25% de mestres e doutores no país estejam desempregados. É como se o Brasil investisse para formar o profissional qualificado e dissesse: “olha, agora que você está pronto, vá gerar riqueza para outro país”. É como renunciar a um futuro melhor. Daí que é tão fundamental investir parte dos recursos do pré-sal nessa área vital para o desenvolvimento nacional”, conclui Vinicius Soares.
ANPG