ANPEd Norte faz história com seu primeiro encontro e afirma posição de resistência em defesa da Pós-Graduação na região na abertura do evento nesta quarta (19)

reportagem: João Marcos Veiga

O auditório Benedito Nunes, no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, recebeu um momento histórico com a abertura da 1a Reunião Científica Regional Norte da ANPEd, na manhã desta quarta-feira (19). Logo na entrada do ótimo espaço, localizado às margens do Rio Guamá, professores, pesquisadores e alunos(as) dos sete estados da região já puderam entrar no clima da cultura paraense, com apresentação de carimbó e banho de cheiro (alecrim, manjericão, folha de chama), além de imagens da impactante exposição do fotógrafo Valério Silveira, intitulada de Caminhos das Águas, com registros na capital paraense.

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Já dentro do auditório, os presentes foram recebidos pela apresentação do quinteto de violões da camerata popular participativa do curso de graduação em Música da UFPA, num repertório que passeou por temas de Chico Buarque, Beatles, Pixinguinha e de compositores paraenses. Na sequência, a performance do grupo Vozes da Pedagogia colocou o teatro a serviço da reflexão sobre assuntos centrais para a Amazônia e para a própria Educação brasileira, como resistência dos ribeirinhos, exploração sexual, cotas, PEC 241, educação indígena e MTST. "Até quando a intolerância vai prevalecer?" "Extra! Extra! Ninguém liga, ninguém escuta." As vozes dos oprimidos ganharam as gargantas, corpos e cartazes dos jovens estudantes, comovendo a plateia, que respondeu prontamente com gritos de "Fora Temer!", o que viria a ocorrer diversas vezes ao longo da manhã.

 

Após a execução do Hino Nacional e com a mesa de abertura composta, as falas de representantes da organização local, ANPEd, agências de fomento e da UFPA transitaram entre dois eixos: a importância história de um encontro próprio da região Norte e o momento crítico vivido pela Educação no país, colocando a pós-graduação em risco, apesar dos avanços recentes na região. Sônia Araújo, organizadora da ANPEd Norte e coordenadora do PPGEd da UFPA, abriu o encontro saudando a realização do evento como ponto decisivo para o fortalecimento da pós-graduação na região, que foi a que mais cresceu na última década, 40%. "Mas e agora? Precisamos estar atentos aos dias que virão. E não nos furtaremos do bom combate", afirmou.

Na sequência, Arminda Mourão (UFAM), coordenadora do Fórum dos Coordenadores de PPGEs da região Norte (FORPREd Norte), foi dura ao evidenciar que o momento pede resistência e união frente à desmoralização da política e desmontes sociais. "A pós-graduação no país está em perigo, e na região Norte ainda mais, pois não está consolidada." Por sua vez, o coordenador nacional do FORPREd, José Gondra (UERJ), exemplificou de forma prática esse quadro preocupante e a assimetria da distribuição de PPGEds pelo país - dos 174 programas, apenas 12 estão na região Norte. "E além disso, vemos ameaçadas as ações de combate às assimetrias com a suspensão ou reformulação negativa de vários editais e projetos, como o Procad, os observatórios de educação, Minter, Dinter. Essa ameaça não é uma ficção, já é uma realidade", disse Gondra, que aponta impactos disso na precarização do trabalho e na produção do conhecimento, o que em seu ponto de vista exige ações coordenadas da classe acadêmica em resposta.

Já Vera Jacob (UFPA), vice-presidente da ANPEd pela região Norte, reforçou a importância da realização do primeiro encontro na região para responder a tal quadro. "Apesar de ocupar mais de 50% do território nacional, o Norte passou muito tempo com apenas três programas. Hoje somos 12 e com expectativa de novos em breve. Hoje também somos 378 professores e pesquisadores do Norte na ANPEd. Em 2014 não eram nem 100.  Isso fortalece a região", afirmou a professora e doutora, que também lembrou o apoio da ANPEd Nacional no financiamento do encontro. Posteriormente, a presidente da ANPEd, Andrea Gouveia (UFPR), defendeu que o número de 4.600 sócios da Associação em todo o país representa de certa forma um contraponto ao contexto de desmonte social em todo o país, representado pela PEC 241 e o retorno de projetos reacionários e assistencialistas, como o "Escola sem Partido" e o "Criança Feliz". "Que o conhecimento acumulado que produzimos seja um trampolim para a transformação e crítica social, pelo olhar plural que traz, da creche à pós-graduação", disse Gouveia.

Por fim, a abertura contou com a conferência do professor Aluísio Leal (UFPA), abordando a temática "Políticas públicas e formação humana: desafios para a educação na Panamazônia"